A sala estava sempre em penumbra, como se guardasse segredos. A única luz que entrava vinha daquela janela, com as bordas desgastadas pelo tempo, e que dava para a floresta. A máquina de costura, há anos no mesmo lugar, parecia ter se tornado parte da mobília, com seus fios de linha desfiados e as agulhas gastas pela repetição incansável do vai e vem.
Lá fora, as árvores bailavam ao som do vento, os pássaros cantavam melodias, e o verde das folhas brilhava a cada manhã. Aqui dentro, o escuro dominava. A máquina, com suas engrenagens silenciosas, parecia contar uma história de espera.
Pensei em quantas roupas aquela máquina já costurou, em quantas vidas ela tocou sem nunca sair dali. A cada ponto, costurava não só tecidos, mas também memórias, pedaços de uma vida que bailava fora com a natureza.
A janela para a floresta era a única conexão entre o interior abafado e o mundo livre. Era como se ela estivesse ali para lembrar que, embora o trabalho dentro da sala fosse necessário, a vida verdadeira estava lá fora, no sopro do vento, no voo dos pássaros e na dança das árvores.
Quantas vezes ignoramos nossas próprias janelas para o mundo? Talvez a máquina de costura, em seu silêncio, soubesse a resposta.