Juntas

Os dados e números do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), de 2023, mostram que uma pessoa é vítima do crime de estupro a cada seis minutos no Brasil.

O perfil das vítimas é composto por meninas (88,2%), negras (52,2%), de até 13 anos (61,6%) e, em 84,7% dos crimes, os agressores são familiares ou conhecidos. As violências acontecem em casa, na via pública, em estabelecimentos comerciais/financeiros, hospitais e também na área rural, em sítios e fazendas. A maioria, 76% desses crimes, acontece com vulneráveis, isto é, menores de 14 anos ou incapazes de consentir por deficiência ou enfermidade. Entre os meninos, a maior incidência de estupros acontece entre os quatro e os seis anos de idade, e cai à medida que se aproximam da vida adulta.

Minha diarista, Alba, tem uma neta chamada Estrela, de 12 anos. Alba vem uma vez por semana e conta-me, enquanto prepara o café para tomarmos juntas, tudo o que precisa fazer para ter uma certa tranquilidade na vila onde moram.  Ela deixa Estrela na escola, e vem para o bairro onde tem suas clientes, cinco na semana, cada dia na casa de uma – por sorte, sempre diz, todas no mesmo edifício. Chega pelas 8h15, faz café, e cumpre o combinado com a dona da casa até 13h, pois às 13h15 precisa estar na porta do colégio, para buscar sua neta e irem para casa. Juntas.

A escola tem aula até 12h30, mas Estrela pode ficar até 13h15, antes de iniciar o turno da tarde, com a servente Quina, que faz a limpeza das salas de aula, num acerto feito para permitir o trabalho de meio turno de Alba.

Qual a razão disso? O temor de Alba de que aconteça com Estrela o que aconteceu com sua filha Dalva. Foi estuprada voltando da escola, às 12h30, em plena luz do dia. Alba não esquece o terror que viveram, ela e a filha. Agora, cuidam para que nada aconteça com Estrela pois, embora não conheçam os dados estatísticos, viveram na própria pele o que os frios números espelham.