8 Marcelo Alves

Intuição

Logo depois do Carnaval de 2024, combinei com minha filha, moradora do Rio de Janeiro, que eu passaria uns dias com ela, em maio, incluindo o Dia das Mães. Tudo acertado, inclusive que Eros, meu Shih-tzu, ficaria em um hotel em Porto Alegre, pois por apenas quatro dias não valeria a pena o gasto e o estresse do pet com viagem aérea.

Em meados de abril, Vitória telefona e me diz: olha, mudança de planos, eu vou a trabalho para o Quênia, e coincide com a tua vinda. Podes antecipar tua viagem? Eu, que já queria muito assistir ao show da Madonna, em Copacabana, agendado para o dia 4 de maio, prontamente concordei. Anteciparia minha ida, poderíamos ficar juntas uns dias, assistiríamos o mega espetáculo nas areias da Princesinha do Mar, e eu poderia cuidar da Sol, a vira-lata da Vitória, durante sua viagem à África. Ela ainda frisou, ao telefone: olha lá, estarei muito atucanada, não traz o cão – o jeito que ela chama meu Eros. Concordei.

Antecipei a viagem para o dia 29 de abril, e eu trabalharia remotamente aqueles dias, tudo perfeito. Na véspera da viagem, acordo sem mais nem porquê e, num sobressalto, penso: levarei Eros comigo. Na manhã, cedinho, entro no site da companhia aérea e compro o bilhete de ida e volta do meu fiel companheiro. E fiquei na minha.

Viajamos com chuva, mas nada de especial, e chego no Flamengo de mala, mochila, sem cuia, e com Eros. Vitória abre a porta da sua casa e me fuzila com os olhos, dizendo – Mãe, tu trouxe o cão, puxa, eu te pedi para não trazer, tenho palestra para escrever em inglês, estou com mil prazos, tu sabe que só vai me atrapalhar. Eu dei-lhe um beijo e disse que ficasse tranquila, que eu não sabia o motivo, mas não pudera deixá-lo e que cuidaria para que ele não latisse e não estorvasse a dona da casa.

Em seguida começaram a pipocar notícias sobre os terríveis temporais que sobrecarregaram as bacias dos rios Taquari, Caí, Pardo, Jacuí, Sinos e Gravataí, ocasionando também a cheia do Guaíba, com a inundação de bairros inteiros da mui valorosa Porto Alegre, em proporções não vistas depois de maio de 1941. Vitória, ao ver as imagens pela TV, veio me abraçar – Nossa, mãe, que bom que o cão veio. Imagina se ele tivesse ficado lá. Eu só pude retribuir o abraço, olhar para o céu, e agradecer a intuição que me fizera trazer Eros comigo.


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