Entre a escuridão e a claridade vivem os semitons. Os vermelhos ainda não são. Apenas sugerem. Os azuis ainda não estão. Espreitam. Os verdes aguardam definição. Os amarelos se mesclam aos primeiros albores. Todos, parte de uma escala cromática de tons e sons, que em breve romperão a madrugada e se exibirão em harmonia no palco iluminado da manhã.
A luz é a condição ansiosamente esperada.
A noite, terror dos insones, enrodilha-se no esquecimento provisório. Voltará a assombrar, depois que o sol se cansar de explodir. Depois que a luminosidade se esgotar de brincar com as cores. Quando os semitons incandescentes empalidecerem nas cinzas do entardecer.
Apaga-se a luz.
As cores todas se reúnem numa só treva, num só semitom. O da noite, ardentemente indesejada. E para anunciá-la, o coração executa os primeiros acordes da 5ª de Beethoven: pam-pam-pam-paaammm!