“Quando você elimina o impossível, o que restar, não importa o quão improvável, deve ser a verdade.” – Sherlock Holmes / Arthur Conan Doyle
A turma chega. Ainda na porta, risos, beijos e abraços. Já dentro, reminiscências e novidades, embalados pela música eclética e por muitos brindes. Duas horas mais tarde, Joyce, que não encontrou babá, improvisa uma caminha num canto estratégico da sala contígua para sua bebê Agatha que, em plena festa, testou seus primeiros passos, e caiu exausta de sono. Tudo ajeitado, todos embriagados, começa a outra metade do encontro, já tradicional: é noite de jogar “Detetive”.
Na sala principal, raciocínio lógico e dedução tentam se manter intactos ante a miríade de bebidas que Elisa, anfitriã e esotérica, deixou à disposição. Glauber, o cinéfilo chato da turma (também metido a expert em tecnologia), sempre suspeito, logo é eliminado. No meio do jogo, a perspicaz Yumi, que usa a linguagem dos sinais, tenta chamar a atenção dos amigos, e aponta. Ninguém percebe. Ela insiste.
- Did you see que a luz da sala ao lado ligou sozinha? – pergunta Brian, da porta de entrada. Ele, o “gringo”, saíra por uns minutos, para “smoke um cigarro” – Look, apagou de novo. Agora acendeu.
Yumi acena. Elisa olha para ele, depois segue na direção da sala. Antes dela chegar, a luz se apaga.
- Deve ser mau contato, Elisa. Esquece, vem jogar – reclama Joyce, aparentemente bêbada.
Elisa dá de ombros e volta. Na sala, a luz acende, depois se apaga, depois acende. Os amigos se olham. Juntos, resolvem “investigar”. A luz se apaga. Já na sala, diante da mesa alta no centro, eles examinam de perto a luminária, pendente acima. A luz acende, provocando sustos, gritinhos e whatafucks. Yumi gesticula um “Que esquisito!” em libras.Todos concordam, sinalizando. Menos Joyce, definitivamente bêbada, que contempla a luz e estende a mão já claudicante:
- Que bonito – murmura com a voz mole, meio que babando. A luz pisca, apaga e acende.
Is it real? Ou é delírio coletivo por causa do baseado que fumamos? – diz Brian, de olhos vermelhos.
Mas nós não fumamos baseado – responde Glauber olhando para ele, desconfiado.
Err…. Ah, é, sorry, my mistake – desconversa o gringo, e disfarça olhando para a luz que se apaga e acende, mais uma vez – Shit, o que será, então?
Pode ser uma manifestação mística! Uma mensagem dos astros, grita Elisa, eso-histérica.
Ah, para, diz Joyce. Lá vem você com suas maluquices zodíacas – e dá outro golada.
Great detectives…, resmunga Brian em tom blasé, louco para fumar outrozinho.
Gente, deve ser só um bug no USB da lâmpada wifi – declara Glauber. E grita “Alexaaaa!!!”, imitando Marlon Brando na cena do balcão de “Um bonde chamado desejo”. E leva um tapa da Yumi.
A luz se apaga, depois acende. Todos falam, gritam ao mesmo tempo. Elisa sai, diz que vai buscar uma mandala e dez búzios. Yumi gesticula freneticamente. Joyce, cambaleando, segue rumo ao barzinho. Brian acende um baseado ali mesmo. Ninguém liga. A luz se apaga. A luz acende. Alexaaa!!!
Enquanto isso, no canto estratégico da sala, sentada ao lado do interruptor, Agatha se diverte com seu novo brinquedo. Aperta pra cima, aperta pra baixo, bate palminha. Imagina quando aprender a andar, de vez…