Há questões intrigantes que perpassam o tempo e estão mais acentuadas e angustiantes à medida que a humanidade in/evolui. Na busca de respostas, revisito os versos do Poeta Mário Quintana, e vou tecendo uma espécie de entrevista póstuma.
– Para começar, vive-se num corre-corre e num piscar de olhos, já é final de ano. As pessoas não têm mais tempo para viver. Então, como o querido Poeta define a vida?
– A vida é assim, meninazinha sem nome… A vida nem dá tempo para a Vida. Só a poesia possui as coisas vivas. O resto é necrópsia. Não faças da tua vida um rascunho. Poderás não ter tempo de passá-la a limpo. Tão bom viver dia a dia… A vida assim, jamais cansa…
– Os amores contemporâneos não são os mesmos de outrora: são líquidos, volúveis, efêmeros. Afinal, o que é o amor, o que é amar?
–Amor: quando o silêncio dos dois se torna cômodo. Amar é mudar a alma de casa. Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo…
– É possível um amor virtual, um amor à distância?
–Mas onde já se ouviu falar num amor à distância, num tele-amor? Num amor de longe…Eu sonho é um amor pertinho/ um amor juntinho… Quando duas pessoas fazem amor, não estão apenas fazendo amor. Estão dando corda ao relógio do mundo.
– Ainda sobre o amor, como devem ser as manifestações de amor?
–Uma das mais deliciosas manifestações de amor é a falta de respeito.
– Os amigos estão raros e na vã tentativa de substituí-los recorremos à terapia. Como conceituar a amizade?
–A amizade é uma espécie de amor que nunca morre… Não é possível amizade quando dois silêncios não se combinam. Quando o silêncio a dois não se torna incômodo. Amigo é a criatura que escuta todas as nossas coisas sem aquela cara que parece estar dizendo: – E eu com isso?
– Esporte?
– O único esporte que pratico é a luta livre com meu Anjo da Guarda.
– Sobre o vícios, algum conselho?
– […] quem não bebe, não fuma, não joga no bicho, nem nada…Isso não é vida de cristão, como dizem os gaúchos. Sim, porque afinal a verdadeira virtude está no sincero e difícil arrependimento e não na inocência boboca.
– O que é a democracia?
– Democracia? É dar, a todos, o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, isso depende de cada um.
– Como conceituar e aceitar o Tempo, que nos assusta com seus sinais?
– Coisa que acaba de deixar a querida leitora um pouco mais velha ao chegar ao fim dessa linha. O tempo é um ponto de vista. Velho é quem é um dia mais velho que a gente.
–Do que tens mais saudade?
–A saudade que dói mais fundo – e irremediavelmente – é a saudade que temos de nós. A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo.
– Qual mensagem o Poeta deixa para seus leitores?
–A minha mensagem? Nenhuma. Não sou moço de recados. Aliás por que você não se deu ao trabalho de ler meus versos antes de entrevistar-me? Se os conhecesse, lembraria certamente aquele que diz: “Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa condição de poema”.
Revisitando os Quintanares é possível encontrar respostas bem-humoradas e energizadoras para nossas preocupações mundanas. Encantamento, saudade, mistério, poesia viva: assim me sinto sempre que paro em frente ao quarto-aquário no antigo Hotel Majestic. Versos-peixes-vivos flutuando; palavras soltas, inspiradoras, em movimento; e a imagem eternizada do Poeta-menino, do outro lado.
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