9 Guto Monteiro

Passadinhos ou passarão?

O tempo passa, o tempo voa e a cabeça, às vezes não fica numa boa. Tudo passa e acontece. Eles acontecendo e nós passando. Eles começando e nós finalizando. Eles rindo e nós chorando. Quem não foi super-herói um dia?

Quando éramos crianças imaginávamos ser; na adolescência achávamos tudo bobagem; adultos, casados, com filhos e contas a pagar, voltávamos a essa condição: corríamos para lá e para cá com eles, levava-os à escola, pracinhas, médicos, aniversários e festinhas. Ufa, que canseira boa e gratificante que dava! Ainda tínhamos que trabalhar e estudar para o sustento da família. Transformava-nos novamente em super-heróis, de verdade, e, melhor ainda, de nossos filhos. Que tempo bom era aquele. Que maravilha ter aproveitado cada minuto desse tempo. Hoje não voltará mais! Será mesmo?

Já não somos mais os heróis de antigamente. Creio que passamos o bastão para os nossos filhos. Eles o são agora com os filhos deles, nossos netos. É bem verdade que os vovôs e vovós têm, algumas vezes, essa oportunidade, porém com bem menos fôlego, diga-se de passagem.

Assim é a vida, cheia de etapas. Tudo tem o seu tempo e momento certo. É a perfeição da natureza. Nascemos para crescer, aprender, multiplicar – se assim o desejarmos- ensinar, orientar e tentarmos ser felizes. Nem sempre isso acontece a todo instante, a felicidade é um estado emocional de altos e baixos.

A sensação de dever cumprido misturada com amor infinito é o que nos sustenta. Casa cheia, gritaria e correria diminui com o tempo. Tem dia certo e hora certa para fazer e receber visitas, principalmente àquelas tão esperada. Não adianta se iludir. É assim que a coisa funciona. Cada um tem seus compromissos e lazeres. Temos que nos adaptar, não adianta mais vestir a camiseta de super-herói, nem colocar sua capa para dar um voo por aí. Elas agora têm outros donos, nos contentamos com o que já fizemos, recebemos e com o que podemos ainda dar e doar, se a saúde assim permitir, aos nossos netos quando, enfim, vêm nos visitar. Às vezes é uma visitinha rápida, de uma ou duas horas. Não importa. São pequenos e intensos momentos que satisfazem o nosso coração e fazem renascer o herói ou a heroína que fomos num tempo atrás. Não precisa ser todo dia ou toda hora porque sei que muito só atrapalha. Basta um lanche bem rapidinho com brincadeiras e boas risadas que a felicidade vem com tanta força que parece infinita, enquanto dura, como já dizia o poeta.

Resolvemos então usar a nossa capacidade criativa: pegamos nossa fantasia e pronto! Vovó Descabelada e vovô Careca com superpoderes entram em ação. Passadinhos ou passarão?

 


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