Somos todos viageiros.
Do tempo, do espaço, da memória.
Ao longo da vida, não há quem nunca tenha viajado, já que são inúmeras as maneiras de fazê-lo.
De carro, ônibus, trem, barco, avião, bicicleta ou qualquer outro meio de transporte inventado pelo homem. No lombo de cavalo, camelo ou burro. De carroça, charrete ou trenó. Pode-se ir longe ou perto, a lugares bons ou ruins. O sucesso ou o fracasso da viagem está atrelado aos objetivos e às companhias, não só ao destino. Viaja-se para trabalhar, para visitar amigos, para enterrar parentes, para conhecer alguém, para estudar, ou simplesmente para passear por lugares e culturas novas. Em má companhia, o melhor lugar do mundo perde o encanto. Assim como uma boa companhia melhora qualquer situação.
Nem todas as viagens são reais. Nosso maior privilégio como ser humano é viajar na imaginação. Através dela, percorremos diferentes trajetos para chegar a lugares incomuns. Andamos para trás e para frente, vamos ao céu e ao inferno, visitamos o passado e planejamos o futuro. Alguns combustíveis nos impulsionam nessas aventuras.
Livros são grandes condutores de energia imaginativa. Traçam o fio por onde seguimos, sem saber aonde vamos parar. Além de espaços, conhecemos outros tempos e culturas.
Filmes nos carregam para longe, com experiências visuais e auditivas legítimas. Menos imaginação e mais percebimento.
Com a música, a gente tira os dois pés do chão. Nos transportamos no tempo em poucos minutos. Viagem com emoções levadas ao extremo.
O passado nos chama, sem piedade, com aromas e sabores. Voltamos dois dias ou quarenta anos em uma fração de segundos, num estalar de dedos. O mesmo perfume que determinada pessoa usava. O aroma idêntico ao do bolo da mãe. O sabor do arroz doce que traz a vovó de volta ao aqui da memória.
O cheiro de terra molhada como nos banhos de chuva da infância.
Sonhos são as inexplicáveis viagens que fazemos dormindo. Nem sempre são bons estes passeios noturnos. E há quem se atreva a interpretá-los, valendo-se do espiritismo ou da psicologia, ou ainda de suas crenças pessoais. Na popular, por exemplo, quem sonha com merda vai receber dinheiro, mas quem sonha com cobra vai ser traído. Melhor deixar quieto, a menos que sonhe com o número do bilhete da loteria.
São tantas as formas de viajar que devo ter me esquecido de algumas. O certo é que cada um tem a sua preferida. Qualquer viagem pode ser excelente, ruim ou perigosa. Tudo depende de nossas escolhas. Os mais aventureiros são atraídos justamente pela imprevisibilidade e falta de controle que podem ocorrer ao longo do trajeto.
Quem escolhe as drogas como combustível muitas vezes passa do ponto. Usuários relatam viagens interessantes. Geralmente para lugares extraordinários, às vezes inóspitos, com altos riscos, inclusive de não retorno. Alguns ficam mesmo a vagar sem destino por tempo e espaço desconhecido, até o escurecimento total da mente.
Viajar é preciso; morrer não é preciso.