Não esqueço jamais a passagem pela Cordilheira dos Andes de avião. A silhueta imponente da rocha se extendendo longitudinalmente por quilômetros e quilômetros ao longo de toda a costa do pacífico na América do Sul. Às vezes envolta em nuvens, às vezes desnuda. Estávamos indo para o Peru e esta foi a primeira paisagem detectável a olho nu deste monumento 4.000 metros acima do nível do mar, que é a média da Cordilheira.
Conhecemos num primeiro momento Cusco, onde ficamos hospedados no hotel. Depois, no dia seguinte, Machu Picchu. Para quem não sabe, Cusco tem altitude maior que Machu Picchu, de 3.399 metros. Machu Picchu está abaixo, a 2.400 metros acima do nível do mar.
Nem imaginava o que me aconteceria em Cusco. O primeiro contato no solo com altitude elevada foi uma surpresa, por mais que tivesse lido a respeito. Nem mascar folha de coca, nem tomar chá de coca, nem comprimidos para o soroche me safaram de passar a primeira noite vomitando. Perguntei para a recepcionista do hotel o que poderia ser feito, nada, isso passa, ela me disse.
Depois me dei conta que a orientação dirigida aos turistas é de que no primeiro momento ao chegar em altitudes elevadas, as pessoas devem repousar, não caminhar, não fazer exercício. Pois fizemos exatamente o contrário, chegamos com fome e saímos a caminhar a procura de um restaurante. Parecia que carregava um peso nas canelas, nas pernas e nos pés, a caminhada era cansativa, às vezes faltava o ar, logo percebi os efeitos do oxigênio rarefeito no corpo da gente. Mas achei que era só isso.
Qual nada! Passei a noite com dor de cabeça e indo ao banheiro para lançar na privada o que havia sido a primeira janta em Cusco. Achei que ía morrer. Porém, há que se dizer, dentre nosso grupo de quatro, fui premiada, a eleita para passar mal, meu então companheiro e demais parcerias de viagem não passaram nem um quinto do meu sufoco.
No outro dia, aleluia, já acordei bem e, acredite se quiser, fiz até o desjejum. Com o corpo já adaptado às alturas, andar mais abaixo, em Machu Picchu, foi fichinha depois de Cusco. Só alegria e encantamento com toda aquela tecnologia e saberes milenares da civilização inca! Como, nós, latino americanos, sabemos tão pouco a respeito disso?!