7 Myrthes Gonzalez

Turismo

– Motivo da viagem?

– Turismo.

– Turismo?

– Sim. Turismo.

O oficial olhou nossos passaportes. Olhou para nós. Depois chamou uma colega que nos pediu que a acompanhássemos. Entramos em uma salinha, e um homem já estava ali. Devia ser outro oficial. A mulher pediu para abrirmos as malas. Abrimos. Retirou nossas roupas e calçados. Avaliou o pote se xampu, o perfume. Olhou com atenção nossa farmacinha de viagem. 

– Primeira vez aqui, certo?

– Sim. Nossa primeira viagem internacional.

– Por que decidiram vir para cá?

– Porque é bonito nas fotos. É grande. E é mais quente que a Inglaterra. Mais barato também.

Eu podia dizer que nosso pai é professor de História e Geografia. Que tinha feito pós-graduação, pesquisando este país que estamos querendo visitar. Tinha nos contado sobre a escravização de pessoas do nosso continente, embora a maioria fora de onde hoje é o nosso país. Parece que a maioria dos escravizados era da área tropical, na costa do Atlântico, onde hoje fica a Nigéria, Gana, Benin. Também da vizinha Angola. Ele falava que aprendeu que os escravizados produziram a riqueza deste país nas lavouras de açúcar e café, e também na mineração de ouro. Didático, papai falava de trezentos anos de escravidão no país. E quando a escravidão foi abolida, os escravizados e seus descendentes foram em grande parte marginalizados. Com os piores empregos, e morando nos piores lugares. Os antigos senhores os chamavam de preguiçosos. Ainda hoje há consequências dessa história. 

Papai não recomendou que viéssemos. Disse que aqui a polícia era semelhante à polícia do apartheid com as pessoas negras. O apartheid acabou antes de nascermos, mas ouvimos e lemos sobre ele. Contudo queríamos vir. Viajar era uma espécie de presente antes de irmos para a faculdade. E aqui é bonito nas fotos. E dizem que as pessoas são acolhedoras. 

– Onde vocês vão ficar hospedadas? – A mulher nos encarava depois de terminar de examinar a bagagem. Mostramos a reserva do hotel no celular. 

– Ok.

Voltamos para a área do desembarque. Falou com o homem que nos recebeu. Ele carimbou nossos passaportes. Olha olhou para nós: 

– Bem-vindas.


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