Não são poucas as situações de humilhação que passam pessoas negras. Nós brancos comumente produzimos e reproduzimos estas situações sem jamais nos darmos conta. Porque queremos manter nossos privilégios seculares que a sociedade brasileira nos garantiu. As terras aos colonos, as vagas nas universidades públicas, as vagas de emprego, os lugares de poder. Tudo muito inconscientemente articulado para dar lugar a uns e retirar de outros.
Mas para que uma estrutura social destas funcione é preciso convencer-se e convencer aos outros que existe uma hierarquia, que uns são melhores e valem mais que outros, que os outros são inferiores, de uma raça e cultura de pouco valor ou sem valor. Muitas vezes são até desumanizados, considera-se que não são humanos, por isso devem ser submetidos e retirados dos espaços importantes. Achar tudo isto absolutamente natural e normal é o que se chama branquitude. Se você nunca ouviu esta palavra, está na hora de estudá-la, pesquise, busque este letramento.
Muitos são os adjetivos e expressões utilizadas. As palavras estão na cultura e são reproduzidas e naturalizadas. “A coisa ficou preta”, “denegrir” sempre no sentido de dizer que o que é preto é ruim. Numa palestra contra o racismo um professor universitário que teoricamente seria anti-racista, referiu-se aos negros dizendo “os subalternos merecem ser ouvidos…” ou algo assim. Inacreditável. Nenhuma reflexão sobre o que ele mesmo tinha formulado chamando de subalterno o que não pertence a sua raça branca. Esta, a raça branca considerada como “O” modelo de civilização, um modelo universal e inquestionável.
Para dominar ou para querer extinguir o outro como sujeito ou até extinguir sua existência como num genocídio é preciso toda uma argumentação que sustente tal ato. Simplesmente exercer o ato de morte sem justificativa, isto não será aceito, é preciso justificá-lo: o outro não vale o que come, é ignorante, é inferior e incapaz. E o pior é que este próprio sujeito, alvo destas críticas, também pode ser subjetivado nesta lógica, também se achar inferior, feio, burro, incapaz… E pode passar a vida buscando se branquear para tentar ser aceito, valorizado, vizibilizado e ter um lugar ao sol.
Sociedade perversa.