Encravada no coração de Campo Grande, a forma alongada e metálica, com faixas vermelhas na parte central, domina a paisagem urbana. O Bioparque Pantanal, com sua arquitetura elíptica, encanta os olhos e atiça a curiosidade menina. O projeto criado por Ruy Ohtake conjuga água e vegetação, criando um ecossistema único. O imenso aquário abriga peixes de água doce do mundo inteiro. No centro da instalação, ao ar livre, há espaço para jacarés, lontras e ariranhas. Há também um museu, exposições itinerantes e permanentes, laboratórios, auditório. Um mosaico multicolorido de saber e estética.
Mergulhamos dentro do Aquário como quem mergulha num ventre. Milhões de litros de água nos cercam, contidas por grossas paredes transparentes. Peixes de diferentes formas, cores e tamanhos nadam de um lado a outro, sobre nossas cabeças. Enormes arraias parecem voar graciosamente, ondulando suas longas caudas, despreocupadas. Grandes cilindros reproduzem os olhos d’água – ou ressurgências –, um fluxo efervescente tomado por peixes pequeninos e coloridos, como o alegre lambari-bonito ou o tetra-do-Mato Grosso, vermelho como o sangue. Em águas mais escuras, jaús circulam, majestosos. A guia nos apresenta a colossal Maria Fernanda, isolada dos demais, pois está de dieta. Emburrada, ela nos dá as costas, e se mantém imóvel, entre as pedras. Nós te entendemos, Maria Fernanda, a restrição alimentar tira o bom-humor de qualquer um.
Mais adiante, os jacarés nos esperam. Vemos um jacaré-do-pantanal de quase três metros, que perdeu a pata dianteira direita ao ser atropelado na Transpantaneira. Além dele, há muitos outros animais resgatados, vítimas de queimadas ou da seca que, de tempos em tempos, castiga o Pantanal, deixando à mingua seus habitantes. Crianças observam os répteis de dentes assustadores, entre fascinadas e temerosas. Uma delas indaga ao pai se o jacaré é da família dos dinossauros. Pergunta interessante: a semelhança é evidente! O pai dá de ombros e, com o olhar, pede socorro à guia, que provoca a pequena:
– O que você acha?
As duas travam um animado diálogo, enquanto seguimos caminhando, palmilhando o circuito dos aquários. Diante de uma floresta de igapó, paramos. E eu me sinto como aquelas crianças, deslumbrada pela beleza do cenário, onde troncos de árvores submersas, como a castanheira, o buriti, a samaúma, criam uma atmosfera onírica. A abundância de peixes de cores brilhantes aumenta a sensação de sonho. Jussara, uma arraia-pintada, navega junto ao vidro, exibindo-se, orgulhosa, como a rainha que é.
– O Banguela! Olha, pai! É o Banguela!
Desperto do meu transe com o animado grito do menino de cabelos espetados. A despeito dos apelos da guia, ele espalma as mãozinhas e gruda o nariz contra o vidro, colocando-se na ponta dos pés. Eu me aproximo dele e me inclino, procurando:
– Ali, tia – olhei para onde seu dedinho indicava e me deparei com um miniBanguela. Muitos miniBanguelas. Eram axolotes, salamandras naturais do México e que foram, de fato, inspiração para o famoso dragão de Soluço. Com cerca de 20cm, essas criaturas encontram-se seriamente ameaçadas de extinção. As crianças, muito atentas, perguntam o que se pode fazer para proteger os simpáticos dragõezinhos. Ora, ora. Ainda existe esperança para nós!
Lembro-me da lição aprendida ao ler o epílogo de Como falar dragonês com meu filho: “Tamanho não é tudo. Mesmo pequenos, sempre devemos lutar por aquilo que consideramos certo. E eu não me refiro à luta com o punho ou a espada. Este sempre foi o nosso problema, dos vikings. Eu me refiro ao poder do cérebro, dos pensamentos e dos sonhos.”
Usem o cérebro, pensem, sonhem. Lutem, crianças, lutem!