Quando uma amiga ou amigo faz um desses testes, “Você nasceu uma pessoa preguiçosa ou trabalhadora? Toque no pé!”, “Qual defeito você esconde?”, publicando o resultado nas redes sociais, eu costumo apostar na chamada, “Toque para Jogar”, e aguardar a resposta que me é destinada. O que de fato eu curto é, não aceitando qualquer resultado, clicar no “Tente novamente”. Persistência? Teimosia? Devo ser como tantos outros no planeta com a mesma dúvida em relação a qual das duas categorias – virtude ou fraqueza, tais características podem ser associadas.
Dentre meus aspectos incluo a do tipo narrador observador, aquela voz que ao contar a história, narra os fatos como alguém que os percebe de fora, geralmente confiáveis. Mas às vezes não resisto e faço alguns comentários usando o meu ponto de vista, o que me coloca na categoria de narrador observador, não confiável. Difícil ficar na mesma categoria. Lamento. Parabenizo quando alguém diz conseguir se manter, e já peço a indicação do terapeuta. Por ser notoriamente observadora, em minhas caminhadas não desdenho um banco de praça, onde, ao sentar-me, abro um livro, companheiro assíduo das jornadas, e, entre um parágrafo e outro, fico admirando as criaturas do entorno. É deveras interessante a diversidade de comportamentos que se presencia quando as pessoas se agrupam em um mesmo local.
O lento, que não só caminha devagar mas também demora para decidir onde ficar; o atleta, que tira a camiseta para se exercitar enquanto a maioria das pessoas estão enroladas em suas mantas e casacos – aliás, cogito que mais para mostrar os músculos do dorso e do peito, para se “fresquear” do que, efetivamente, se refrescar; a cuidadora, que acomoda o idoso e, depois consome a bateria do celular sem sequer olhá-lo até a hora da saída; o casal que chega de mãos dadas, troca alguns carinhos e, após alguns minutos de conversa, iniciam uma discussão ferrenha, com direito a gestos obscenos; a menina que deita no último banco livre, ocupando vários lugares enquanto pessoas ficam em pé por não terem onde sentar – um pouco de educação não faria mal a ela; dois idosos que já estavam na praça quando eu cheguei e, ali continuam, imóveis, afetivamente um ancorando o outro, ressonando.
Também aprecio olhar os pássaros que ainda se mantêm nas praças dos espaços urbanos. No bairro onde moro, por ser arborizado, já vislumbrei desde pica-paus, sabiás, canarinhos, pombinhas, até caturritas. Outro dia, chegando em minha casa, após uma dessas caminhadas, vislumbrei um beija-flor tecendo o ninho na trepadeira em frente à minha porta e, fascinada, dele me tornei refém até os filhotes voarem. Aliás, o dia em que vi o filhote de vinte e poucos dias treinando seu bater de asas pelo aparente desejo de sugar o néctar de uma flor, foi impossível deixar de tecer uma analogia com a cena do filho de um casal que, desde sua gestação, acompanho pelos bancos das praças. Os pais não são tão jovens, mas atualmente é comum ter filhos de forma tardia. O rebento está na fase de dar os primeiros passos, e, há algumas semanas assisto a eles, em escala de revezamento, auxiliarem o pimpolho a andar.
Por que nós, humanos, demoramos tanto a bater asas e sair do ninho? Como aquela pequeníssima ave se liberta tão breve? E sozinha! Que maravilha adquirir essa autonomia prematuramente, eu matuto. Vou pedir que, dividam minhas cinzas e minhas próximas gerações as depositem, por vezes, em alguma flor que atraia beija-flores. Quem sabe assim, tipo o botão “Tente novamente” eu me transforme em um deles em uma vida futura? Não custa sonhar, certo? Quem sabe eu “passarinho”, como diz o poeta.