5 Iara Tonidandel

Beija-flor ou não beija-flor

Aquele ali suspenso junto à rosa em frente a minha janela, seria um beija-flor? Talvez não porque beija-flores costumam ter uma lista preta na cabeça e o papo amarelo. Eles costumam ficar parados no ar e para isso batem as asas 80 a 90 vezes por segundo. Para conseguir fazer isto tem um coração muito potente e que bate muito rápido. Tanto que o movimento das asas dificilmente consegue ser captado a olho nu.

Dizem que os idosos apreciam mais os pássaros, ou talvez os detalhes da vida. Minha sogra gostava de observá-los, ficava horas percebendo o movimento deles nos fios de luz do poste ou no jardim, decifrando as relações, o que queria mais espaço, o que bicava os demais, os que pareciam namorar… É que no avançar da idade as pessoas tem mais tempo para olhar o mundo, não estão vivendo na urgência do dia a dia, na rotina escrava das tarefas e obrigações, na sequência casa-trabalho-casa. O tempo da aposentadoria e do envelhecer permite observar mais o que acontece ao redor, os seres vivos em geral, os animais, as plantas, as pessoas.

Os jovens consideram isto uma perda de tempo. Estão apressados correndo para ganhar a vida. É o tempo deles. Claro que não podemos generalizar, há os que também gostam de apreciar os detalhes da vida.

Mas muitos não dão valor para os velhos e para o que eles gostam. Depreciam seus movimentos lentos, zombam da sua dificuldade com o mundo digital, fazem pouco de suas considerações. Pensam que serão eternamente jovens, que nunca chegarão lá. O fato é que se não morrerem, se tiverem sorte, conseguirão envelhecer. É uma dádiva. E traz consigo a sabedoria que só o tempo propicia. Afortunados os que chegam lá!

Definitivamente, aquele ali suspenso em frente a minha janela não é um beija-flor.


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