Sala escura. Há uma janela que deixa um pouco da luz fraca entrar. Lá fora, a paisagem chama. O verde das árvores, o leve balançar de suas folhas, a pequena brisa que sopra, a música que os pássaros cantam. Vida. Tudo do outro lado. Juliana está triste e pensativa. Deseja sair dessa escuridão. Quer fugir para bem longe, subir no telhado e gritar o mais alto que puder. Talvez o grito se confunda com os trovões e com os raios que saem do céu. Há uma tempestade a caminho. Será mesmo? Ou é apenas impressão? Não importa. Sairá discretamente. Sem se despedir, será mais fácil. Nada de satisfação a ninguém do seu destino. Pensa em pular a janela, subir na mesa de máquina de costura com cautela para não se espetar ou quem sabe deixar-se tocar? Daí, por algum encanto, conseguirá dormir um sono profundo como a Bela Adormecida. Mas bela nunca foi, então não terá ninguém para acordá-la. Muito menos um príncipe. Melhor esquecer essa ideia maluca e ir fazer o seu trabalho. O sol se esconde no meio das nuvens cinzentas e carregadas. Está cansada de costurar. Costurar ideias, costurar soluções, costurar atitudes. Costurar. Alguém a chama pelo nome e bate na porta. Juliana não quer atender, nem ouvir. Volta a costurar. Cada pedaço de tecido é uma parte de sua vida. Faz remendos dos seus dias, tenta consertar o que foi feito ou o que não foi. O pano é pouco para tanto o que tem a fazer. A colcha de retalhos ficará pequena para se cobrir, e o tempo mais ainda. Tem que seguir em frente e ser rápida. Acha que vai dar para remendar. Não pode ficar parada. Quer ver o brilho do sol novamente. Está difícil, o clima anda muito instável e descontrolado. Um dia chove, outro esfria, faz calor, vem o vento e derruba tudo. Volta para a janela para saber quem é. Vê um homem com vestes brancas com olhar penetrante e amigável. Ele pede para entrar. Ao reconhece-lo ela sente um frio na espinha. Titubeia um pouco. Olha para um lado, olha para o outro. Agora é tarde, não tem mais volta. Tudo está escuro dentro de casa. Só lá fora há um raio de luz sobre a visita inesperada. Resolve abrir a porta. Deixa o homem de branco entrar. Suavemente ele vem e caminha em sua direção. Juliana sente um leve e agradável torpor. A angústia e o sofrimento desparecem. Estende suas mãos para ele. Não consegue mais resistir. Cai em seus braços e é carregada em seu colo. Finalmente, consegue sair da escuridão em que se encontrava. Agora tem companhia para lhe mostrar o caminho. Juliana não teme aquele homem, pelo contrário, ela o ama e se entrega a ele para sempre.