3 Carlos Hirschmann

No corre

Tarde de verão e eu no busão voltando para casa. 

O ônibus entrou pela Osvaldo Aranha e eu ainda não tinha começado a dormir no caminho até a Vila Estrutural. 

Passando o Araújo vi um menino correndo. Devia ter uns sete ou oito anos. Junto com ele um cachorro, um vira-lata. Atrás dele um casal, também uns meninos; nem um dos dois devia ter muito mais de trinta anos. E eu já com quase sessenta. Tanto tempo vivendo nesta cidade.  Pensar que também dei meus primeiros passos por aqui. Minha mãe que disse. Achou tão importante aquele dia, acho que era um domingo, que pagou para um lambe-lambe fotografar nós dois. Uma foto preto e branca que já perdi. 

Acho que eu também tinha uns oito anos quando minha mãe me levou no centro. Uma das primeiras vezes lá. Talvez a primeira. Não lembro se foi ver alguma coisa no banco ou fazer compras. Passamos na frente da prefeitura. Tinha um monte de pombas. Eu corri espantando elas. Lembro que eu achei engraçado. Me entusiasmei. Só que os bichos voaram e não voltaram por causa da minha correria. Lembro de um momento feliz. 

Depois a vida ficou mais dura. Quatorze e o primeiro trabalho, de office-boy. Depois vários de auxiliar de escritório, ajudante de almoxarife, balconista. Aprender a usar máquina de escrever, computador. Um ano, dois anos de carteira, demissão. E assim foi. Quase sessenta e ainda na lida. Menos mal que ainda estou empregado. Difícil vai ser se aposentar.  Segue o jogo. 

Se eu pudesse morar por aqui, dava para andar no parque antes de ir para casa. 

Já passou o Pronto-Socorro. Vou fechar os olhos. Ainda tem uns quarenta minutos até a Estrutural. 



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