Unhas enfeitadas remontam à Antiguidade. Durante séculos, homens e mulheres usaram este artifício como demonstração de poder e riqueza. Homens, inclusive, pintavam as unhas para ir à guerra. Na China, pessoas usavam unhas longas e coloridas como demonstração de que não precisavam trabalhar. No Antigo Egito, unhas escuras eram para classes mais altas e, ao resto, cores claras. Hoje, essa liberdade está presente em todas as classes, ainda que dificulte o próprio trabalho. Em alguns casos, as unhas precisam funcionar como pinças, assim eram as de uma professora que tive no ensino médio. Em outros, são verdadeiras armas inconvenientes, como em profissionais de odontologia.
A tintura de unhas se popularizou a partir da década de 1930, após a invenção do esmalte, inspirado nas tintas automotivas. Durante muito tempo, esse tipo de cuidado, pelo menos no Brasil, era popular só entre as mulheres. Mas a evolução dos costumes consolidou mudanças de comportamento nas últimas décadas e trouxe os homens de volta ao universo das vaidades. Podem ser curtas, médias ou longas; ovaladas, quadradas ou pontudas, como garras; pretas, coloridas, ou apenas com uma base translúcida. Agora, a todos é permitido – a cada um o que preferir – embora ainda haja quem torça o nariz para as unhas dos rapazes.
Vale destacar que nem sempre são alongadas por vaidade. Há diversos profissionais que as usam assim porque facilita seu dia a dia. Trocadores de ônibus e outras pessoas que lidam com cédulas; músicos que tocam instrumentos de corda; costureiras e bordadeiras, para facilitar o manuseio de seus materiais e, dizem que também os cortadores de charutos (nunca vi). Nesses casos, bastam uma ou duas mais alongadas e pintar ou não vai depender da extravagância de cada um.
Mas, afinal, porque estou digredindo sobre unhas?
Bem, ao me deparar com a fotografia de um teclado, fui provocada a escrever sobre o que senti, para onde a imagem me levou. Na minha abstração imediata, vi unhas pintadas de preto e branco. Mas não foram unhas quaisquer que me vieram à mente. Foram aquelas que chamaram minha atenção, anos atrás, em um programa de entrevistas. As unhas pretas de um conhecido escritor porto-alegrense, cronista e poeta, às vezes um pouco excêntrico. E, embora não cite o nome, todos saberão de quem se trata.