Praça da Matriz
Tom Saldanha
O Centro Histórico é, para mim, o bairro mais representativo de Porto Alegre. Meu coração elegeu-o cartão postal da capital ainda criança, quando ali morei e estudei por dúzia de anos. Não era pouco para quem quase não tinha história: com poucas lembranças anteriores, parecia que sempre vivera ali.
Privilégios geográficos não faltam à nossa capital, e muitos se localizam neste bairro que encanta pela sua diversidade cultural e respeito às tradições. Sua arquitetura é uma das mais significativas da evolução da arte e se presta de forma eficiente aos safáris fotográficos que frequentemente perambulam por suas estreitezas.
Recentemente vi fotos de meu netinho mais novo brincando no monumento central da Praça da Matriz, que imediatamente levou-me a viajar no tempo. Lembranças ainda muito frescas de quando eu brincava entre seus enormes cães, um dragão alado e estátuas que naquela época não compreendia que serviam como homenagens simbólicas ao estadista Julio de Castilhos.
A nossa Praça dos Três Poderes ainda abriga o Palácio do Governo Estadual, a Assembléia Legislativa e o Palácio da Justiça, sendo este último o primeiro edifício modernista da capital. Além da importante característica arquitetônica, o prédio apresenta a escultura de Themis, senhora da justiça, suspensa na sua fachada principal.
Mesmo tentando fugir do que poderia parecer – se é que já não é completamente – um texto de panfleto turístico, é impossível não fazer referência à nossa Catedral Metropolitana, a verdadeira rainha daquela praça. Seu nome originaL é Igreja Matriz de Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre e seu projeto, inspirado na arte renascentista, foi desenhado pelo arquiteto italiano João Battista Giovenale. Suas obras foram iniciadas em agosto de 1921 e só foram dadas como concluídas em agosto de 1986, sessenta e cinco anos depois. Junto a ela, com frentes para as ruas Espírito Santo e Coronel Fernando Machado (antiga Rua do Arvoredo) fica a sede da Cúria Metropolitana, outro monumento arquitetônico com mais de 130 anos.
Não bastasse minha infância na região e as fotos de meu netinho a aspergir bênçãos na minha memória – aproveitando o embalo religioso que o texto tomou – há alguns anos eu e minha esposa passamos pouco mais de 30 dias num apart hotel na Fernando Machado (olha a intimidade com o coronel!), exatamente defronte ao pátio interno da Cúria.
Pude me fartar de fotografar em horários e luzes diferentes, enquanto a cúpula da Catedral se apresentava num ângulo que eu nunca havia visto.