Comutação
Soraia Schmidt
O artista ergue o braço rumo ao céu.
Era o que sempre sonhara.
Ser reconhecido em seu esforço.
Transmitir sua emoção, sua mensagem. Ser lido.
Através dos movimentos, seu corpo falava.
Dançara como nunca.
A alma, liberta em cada um daqueles tantos músculos, suores, cabelos, olhares e palpitações.
Coração e palmas retumbavam em eco dentro do seu peito.
Era a glória. Sua consagração.
E nós todos, mortais?
Não é o que buscamos?
Uma intersecção, um ponto de fusão, de encontro pleno?
Nem que seja na duração do instante de um aplauso, de um abraço, orgasmo ou de um olhar.
A pungência de uma troca que nos faça sentir.
Vibrar. Chorar. Sorrir. Se emocionar.
A troca que nos faz vivos e humanos.
Uma troca que nos modifica mutuamente, a quem dá e a quem recebe.
Uma co-mutação.
Retroalimenta o mundo, infinitamente, num ciclo eterno de energia.
Dessa forma, ficamos, mesmo que etereamente, um pouco imortais.