Deus e o corpo
Soraia Schmidt
Diz a a bíblia que Deus fez o homem à sua imagem.
Imagino eu, que sendo ele perfeito, se retrate pelos belos.
Então, me deparo com este. Corpo moreno, porte atlético, ombros largos. Omoplatas torneadas, pescoço firme e bem desenhado. Cabelos pretos, caprichosamente aparados na nuca. Músculos esculpiram a beleza. A virilidade é aura.
A água escorre pelo corpo, sedutoramente. Aguça apetites e sedes.
Apesar de, instintivamente, querer molhar-me num abraço, atirar-me naquele rio de músculos e perder-me nos descaminhos da luxuria, vejo uma mensagem.
A água tépida a realça ao derramar-se pelo dorso nu. A pele translúcida revela algo mais do que a sensualidade do corpo molhado. Está como a estancar uma dor. E leio um grito:
“DEUS
Só ele sabe minha hora”
Apesar de força e beleza tamanhas, a fragilidade do ser humano se escancara numa estampa.
A angústia da morte tatuada nas costas abertas.
A alma expiando pelos furos feitos na pele.
O corpo recortado em novas bordas.
Como numa tentativa de se expandir.
De buscar contato e conexão com o além. Com o infinito. Com Deus.
A busca de um corpo mais etéreo, quem sabe imortal.
Entretanto, para os mortais, ele é um Deus. Da virilidade masculina.
Coisa rara hoje em dia, a que se deve orar.
Que Deus o guarde com saúde.
A alma?
Só ele sabe.