Para a pequena Jurema, que não conheci
Ângela Puccinelli
Um santuário escondido, em completo abandono. Flores falsas, de plástico.
Merecia bem mais a pequena Jurema.
Atropelada na tenra idade, nem sabia nada da vida ainda.
Estava indo vender coisas malfeitas de palha, junto com os primos, na beira da estrada.
Para eles nem era trabalho, era brincadeira. Atravessavam pelo meio dos carros.
Alguns motoristas compravam. Alguns davam biscoitos recheados. Delícia.
Mas um dia, um caminhão não freou. Os primos correram.
Jurema não conseguiu. Ficou ali, no chão.
Li esta história no jornal. E deste então, venho aqui. Não rezo, nem nada.
Só fico aqui, parada, olhando um santuário escondido, em completo abandono.
Com flores falsas, de plástico.
Merecia bem mais a pequena Jurema.