Par perfeito
Rubem Penz
O corpo fala. O corpo pede. O corpo é uma catedral de desejos. Ele grita suas urgências quando tem sede, fome ou frio. Para o sexo, sussurra. Ainda assim, apesar de recorrer a sutilezas incapazes de gerar reverberações pelas paredes, jamais se cala. Insiste, suplica, conduz.
Jamal pensa escutar, falta-lhe a clareza. Apoia-se no braço do sofá como quem se ancora em uma luta contra a força magnética emanada por Beatriz. Mas uma de suas mãos cede aos encantos e se projeta na direção da mão estendida por ela. Ao toque, ruboriza.
Beatriz quer ser ouvida e a garganta trava. Batalhas. Usa pés e quadris para criar apoio insuficiente, por isso maneia sua cabeça para longe de Jamal, repousando-a no lado oposto do mesmo sofá. Mas seus braços escapam ao controle, criando um arco na direção do par. Beatriz sofre. Não deseja sofrer.
Vistos de fora, nada ou ninguém parece separar Jamal de Beatriz. Por que tanto resistem? A insegurança segura o desejo. Os sussurros úmidos do sexo se misturam aos medos projetados pela infância de prazeres reprimidos, de risadas contidas, de tolhidos movimentos. Criados para salvarem suas almas, amordaçaram os corpos. Feitos um para o outro.
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