Way of life
Felipe Anselmo Olinto
Amor basta. Dito desta maneira, presente o sentimento maior, a impressão que resta aos incautos é que a caminhada a dois pode ser realizada sem tropeços.
Superados os primeiros passos, tomados pela leveza e plenitude inerente aos amantes, começam os tênues incômodos; vivências, diferenças e manias que cada um traz consigo.
O tempo e os problemas do cotidiano emprestam alguma irritabilidade em momentos de convívio, podendo ocasionar – nos iniciados – certo tipo de surdez.
Amooor! – às vezes penso que ela esqueceu meu nome. Tu comprou o shampoo que pedi???
Silêncio…
Penso comigo: shampoo? Entregou uma lista enorme, letra ilegível, como saber? O tal shampoo deve ter sido mencionado quando eu já havia batido a porta – creio que escutei um murmúrio. Achei irrelevante.
Quando nos conhecemos, apesar do meu encantamento, a cautela e a insegurança se fizeram presentes.
De nada adiantou, seu sorriso largo e aparente compreensão do meu way of life me conquistaram de forma arrebatadora.
Passados alguns meses. Dei por mim, estava completamente envolvido pelas tarefas de um compromisso eterno – pelo menos enquanto dure -.
Meu way of life? Jogado numa gaveta qualquer do nosso pequeno e simpático apartamento.
Todos os dias, ao acordar, olho para ela e encontro o porto que escolhi.
Quando desperta, uma sensação de leveza toma conta de mim. Embarcação e cais se desprendem da terra firme.
Agradecidos, iniciamos um novo dia.