Steve Johnson por RubemPenz

Passado!

RubemPenz

Sempre fui daqueles que fica meio nervoso quando faz um calor persistente e extemporâneo em finais de agosto ou começo de setembro. Uma sensação desagradável de fim de ano antecipado, como se o Natal batesse em nossa porta. Parênteses: sobre Natais fora de hora, vejo aí um benefício meio «efeito colateral positivo» na febre de importação da Black Friday – ao menos paramos de ver Papais Noéis em 13 de outubro… Fecha parênteses. Enfim, sei que não estou só nesse sentimento. Afinal, até a natureza às vezes antecipa florações e os sabiás abrem o bico nas madrugadas antes do esperado.

Porém, 2020 vai bater todos os recordes de calendário caótico. Já é dezembro e parece que perdi alguma – muita? – coisa pelo caminho. Uma agradável temperatura de meia-estação que me traz a desagradável ideia de um março estendido. Indefinidamente estendido. Assustadoramente estendido. Se a pandemia trouxe um período arrastado, infindável, o nascer cada vez mais cedo do sol transformou em tempo nenhum o passado recente. Como uma corrida estacionária: movimento, esforço, suor e, em termos de deslocamento, zero. Como assim, dezembro? Onde foi parar abril, maio e junho? Julho, agosto e setembro? Outubro, cadê você? Novembro, que m#%&@ foi essa?

Os números estão aí para dizer que estou sendo injusto: três livros lançados, conquistas importantes no semear de novos tempos, aprendizado em conversão do presencial em virtual (no começo, a cada videoaula eu parecia ter participado de uma luta contra o Mike Tyson), relacionamentos que sobreviveram às modificações impostas pelo isolamento social… A família ainda inteira, apesar de sustos, e a balança demonstrando o peso dentro da margem de erro. Resistentes fios de cabelo e o suave avançar dos grisalhos nas frontes e na barba – tudo dentro da conta. Ok. Reconheço. Mas.

O que mais vejo por aí é gente comendo um ano nas contas. Falamos de eventos de 2018 como se fosse ano passado, e 2019 parece hoje. Ao mesmo tempo, quantas mortes, quantas mortes!? É como se, numa só visada, o tempo passasse todo junto, passado-presente-futuro, empilhado, embaralhando a memória. Pior: em um mês 2020 será passado. Que dizer? Estou passado!


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