Passageiros
Regina Lydia Rodrigues Jaeger
Pegar uma estrada em um dia ensolarado de outono é um dos prazeres desta vida. Além do clima confortável, temos a paleta de cores em tons pastéis, castanhos, amarelos, dourados – paisagem que deleita os olhos e acalma nossa alma. Melhor ainda quando não conhecemos o caminho. É como assistir um filme, ao vivo, a cada curva uma nova cena – suspense, devir. As casas na beira da estrada, com seus jardins, flores, balanços, crianças brincando, cachorros latindo – reminiscências que vão e vêm. Os campos, o gado, as plantações, as montanhas, os bosques, o céu azul – sensação de liberdade, leveza, bem-estar. A chegada a uma cidade desconhecida, descobrindo percursos – encantos e desencantos; encontros. Praças, igrejas, novas caras, outros sotaques, sabores e cheiros – e quem sabe novos amores?
E a viagem continua, passam horas, passam dias (passa boi, passa boiada?), atravessa territórios, ultrapassa fronteiras. Subimos e descemos montanhas – caminhos estreitos, sinuosos, despenhadeiros. Vislumbres. Chegamos e partimos. Onde estamos? Longe ou perto, seguimos na estrada. Road trip, road music, easy rider.
Pontes em arco, longas ou curtas; pontes estaidas, de um ou dois mastros, altas ou baixas. Viadutos, trevos, cruzamentos, atalhos, pedágios, outdoors. Entramos e saímos. Perdidos, paramos e nos amamos. E seguimos na estrada.
Sai o sol, vem a chuva. Vai chuva, vem o sol. Sopra o vento, traz o frio. Sai o vento, cai a neve. Transmutação – mudança de estação. A paleta muda os tons – vêm os brancos, cinzas, os neutros. E seguimos na estrada, agora pesada, escorregadia, perigosa, bloqueada. Desbravar. Perseverar. O destino se aproxima, anseios e segredos também. O que diremos, o que faremos?
Somos passageiros nesta longa estrada, nesta curta vida. Que cada um desfrute do trajeto, seja para onde for, ou com quem for. Que não perca a paisagem, olhe bem a sua volta, entregue-se. Eternize cada vista, cada som e sensação. Esta é a viagem (a porteira está aberta para quem quiser passar).
Que seja intensa, única e jamais esquecida.
Chegamos! Onde?