John Jude Pancar por Juçara Silva Só

Divino Maravilhoso

Juçara Silva Só

Agonia – para quem está de fora, não entra e para quem já entrou, não sai. É como se a fraqueza lhe absorvesse as forças, as vontades e as escolhas. Não há mais nada, nem horizonte, nem luz, nem forma, nada, nada que arrebate seu desejo e sua determinação. Nem um som, cheiro ou toque capaz de tirá-lo do transe.

Aquilo que pulsa, a pele, a carne não importam mais, nem menos. O sonho e a ilusão, roubados e enterrados na infância, nem tão distante, se apagam na memória a cada tragada. Ele dosa da vida, o suspiro truncado, e da morte, a tirania pousada na cabeça sob a gadanha.

Dependente da contingência, de tudo que lhe é externo, o vício é uma das expressões do nosso tempo, e de todos os outros também. Ele toma por grande inimigo a razão, aquela que pondera, que pensa e discerne caminhos, que faz escolhas. Não vê cor, classe social, gênero ou profissão; ele chega sem autuar, de mansinho, se fazendo inofensivo e discreto. Aos poucos vai provocando a cegueira da alma e a transgressão do corpo. Engana com um canto lírico do falso prazer as existências pífias e as frágeis sensibilidades.

O ser humano levou centenas de séculos para chegar ao ponto de ter controle sobre si mesmo, de não se mover apenas através do comportamento contingencial, por fome, medo ou sexo. Do controle de si mesmo e suas vontades, do respeito aos hábitos e rotinas, que alguns ainda chamam de prisão, o homem é capaz de evoluir, conquistar e inspirar outros seres humanos a fazerem o mesmo ou ainda melhor.

A cada dia surgem drogas diferentes, com toques de sagacidade para seduzir jovens e velhos, encantar homens, mulheres e crianças, ricos e pobres. Elas não precisam mais ser de pó, erva ou fumaça. Serem consumidas às escondidas ou servirem de símbolos de rebeldia ou revolução. Hoje os vícios são também provocados por frequências sonoras, por imagens, por inverdades. Até pela informação!

Como já dizia a música de Caetano e Gil: “É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”.


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