John Jude Palencar por Maristela Rabaiolli

Ai, que tortura!

Maristela Rabaiolli

Não. Não vou falar de tortura usando a imagem de John Jude Palencar que mostra um jovem negro, preso a uma parede por uma coleira de ferro, de cuja tiara, também de ferro, pende um cachimbo que ele tenta (ou desejaria) fumar. Quem quiser ver essa imagem pode visitar o Museu da Tortura, em Carcassone, na França, e apreciar o impactante trabalho do artista americano, que se especializou em ilustrações fantásticas, de horror e ficção científica.

Também não vou falar que muito antes da criação de presídios (e mesmo depois) a humanidade tratou de punir as pessoas que não se encaixavam na sociedade com artefatos que pudessem causar constrangimento, dor e morte. A ideia era usar as punições como exemplo e evitar que crimes voltassem a ocorrer. Tais artefatos foram usados para punir não só criminosos, mas também revolucionários, mentirosos, fofoqueiros, homossexuais, adúlteros, promíscuos, hereges e quaisquer outros considerados “perigosos” pelos poderosos da época, sobretudo a Medieval. Mas será que saímos mesmo da Idade Média?

Caso não saiba, há métodos de tortura pós-modernos. Um deles é ter que ouvir música sertaneja. Imagina você, num domingo, fazendo churrasco pra família. O rádio toca João Gilberto e você, de boa, curtindo uma caipirinha. Aí, de repente, seu vizinho coloca em alto e bom som (ops!) Marília Mendonça e Maiara e Maraísa cantando Coração bandido. Haja ouvidos para aguentar tanta sofrência! A respeito disso, me lembrei de um texto atribuído a Luís Fernando Veríssimo intitulado Diga não às drogas. Se não leu, leia. É hilário. Nele, Veríssimo faz uma crítica bem-humorada (como sempre) da tortura que é ouvir música de baixa qualidade. Não bastasse isso, em tempos de polarização política, a maioria dos sertanejos se diz bolsonarista. Haja camisa da seleção pra rasgar!

A aliança de casamento também pode ser outro método de tortura. Imagina você, casada, tendo que fazer agradinho ao maridão, deitado no sofá, bebendo cerveja e assistindo ao futebol. Ou tendo que vê-lo andar pela casa de cueca rasgada exatamente onde a bicicleta freou. Ninguém merece! Mas também há aquela tortura dos 50 tons de cinza. Você decide qual é o método que melhor se encaixa na sua pós-modernidade.

Brincadeiras à parte. Nenhum tipo de tortura é bom, convenhamos. Qualquer ato ou artefato que constranja, humilhe, cause dor ou morte nunca é bem-vindo. Eu por exemplo, parei de assistir aos telejornais. Ali, tortura pouca é bobagem!


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