John Jude Palencar por Jaqueline Behrend Silva

Beleza que vemos (Anatomia)

Jaqueline Behrend Silva

Ombros nus, rosto aquilino, olhar de desejo, boca necessitada.

Nossa visão, às vezes, parece distorcida. Enxergamos através de experiências pessoais. Beleza dos corpos, beleza do nu, beleza da estética, beleza da criação.

Homens, seres complexos, animais perfeitos. Capacidade de criar e modificar o meio de forma criativa e assustadora.

Desenhar o ser humano, o animal humano faz de nós grandes mestres. Mestres da arte, arte do terror, arte da anatomia. Outrora fizemos desta experiencia artística o mais recôndito nervo que nos percorre e, hoje, com novos métodos de imagem e de cirurgias “enxergamos” cada vez mais. A questão é o que fazer com o que vemos. Desenhamos, estudamos e, através da visão, atuamos nestes corpos. Para isto precisamos ultrapassar barreiras.

O que nos perturba? Como utilizar as imagens a nosso favor? Em favor do outro?

Fazer da arte do aterrorizar, do ato cirúrgico uma demonstração de afeto. Transformando em ato de cura, tentativa de criação do belo.

Quando introduzimos cânulas com câmeras, braços móveis como aranhas, tentáculos dentro do paciente, acreditamos no bem. Quando utilizamos bisturi para adentrar no corpo e, com as mãos, tocar e sentir o calor que emana de dentro de cada humano. Sensação de quem olha, terror, sensação de quem faz, paixão.

Por isto o corpo humano nos fascina, é admirado e desejado.

Através dos anos corpos foram dissecados por curiosos, por bruxas, por malucos que queriam compreender o corpo humano, profanando-os, mas levando para a posteridade o conhecimento da anatomia.

Seres arrebatadores, perfeitos. Verdadeiras usinas, com encanamentos, áreas de propulsão, áreas de força, áreas de estruturas, áreas de glândulas.

Competência para através do que vemos enxergarmos o ser humano, de maneira perversa, mas também pelo meio da cura.


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