Jim Harris por Ronaldo Lucena

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Ronaldo Lucena

Não lembro há quantos anos a cena me chamou a atenção. A família nos últimos preparativos para sairmos de férias, numa viagem tão sonhada para uma ilha caribenha. Do corredor da casa vi meu filho mais novo, jogado em sua cama. Tinha nas mãos um brinquedo de Lego, dos tantos que já havia montado, e um pensamento profundo. Sentei ao seu lado para saber o motivo do olhar triste. Ele me respondeu perguntando quem ficaria com os brinquedos dele quando crescesse. Respondi que isso ele resolveria quando chegasse a hora. Alguns poderia guardar, ou doar, outros se deteriorariam com o tempo.

Mudamos o rumo da conversa quando ele se animou um pouco, mas meu pensamento ficou no mérito da questão. Voltei no tempo para o dia em que, diante do espelho, vi as mudanças que a puberdade fazia em mim. Fiquei triste por estar crescendo e entender que deixava de ser criança. Por sorte, foi uma tristeza que se transformou, rapidinho, na vontade de ter todas as liberdades que ser mais velho nos dá. Benditos hormônios, quando funcionam.

Hoje meu filho João Ernesto cresceu e cruzou a tão esperada idade dos dezoito anos. Veio com todas as incertezas, todos os sofrimentos e alegrias que a vida pode nos apresentar. Foi se apoderando desses tempos de tomar decisões e se prontificou para enfrentar desafios.

Como quem cruza a lâmina do lago da vida, emergiu como um pequeno homem, respingando as águas para secar o corpo no sol do novo tempo. Trouxe sua bagagem de infância e seus brinquedos. Mentalizou os mapas e projetos de Legos e games para construir o seu mundo, com seus idiomas, ideias, lutas e rotas definidas. Encarou as rédeas do seu próprio destino para desenhar máquinas de verdade. Quer mover o mundo.

Talvez meu pensamento novamente leve os olhos para o espelho do tempo, que há muito me conhece. Me limito a não dizer nada sobre o reflexo, pois isso tiraria a beleza do viver de quem vem. E é o que te desejo, nesses dezoito anos comemorados, vida longa e cheia de projetos e realizações. Desenhe sua própria estrada, meu filho.


2 comentários em “Jim Harris por Ronaldo Lucena”

  1. Maria Teresa do Valle

    Que bela homenagem para o João Ernesto! Para ser guardada junto com o Lego.

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