A menina e a piscina
Regina Starosta
Como o faz todas as manhãs, Rose pegou o jornal para saber dos últimos acontecimentos. Lá estava, na primeira página, a foto de uma piscina e o cabeçalho em letras garrafais: Ontem, Domingo, 8 de Janeiro de 1940 foi inaugurada, no Centro de Esportes da Prefeitura a piscina comunitária.
Estiveram presentes, além do prefeito Aurélio Campos, o senhor Governador Carlos dos Santos e as costumeiras autoridades.
Logo abaixo desta notícia, estava um convite: Para comemorar este evento o Jornal Vespertino vai promover um curso de natação gratuito para crianças de sete a doze anos. Seguiam-se as instruções.
Rose ficou alvoroçada. Chamou por Aurora , sua filha de oito anos e mostrou-lhe o anúncio. À tarde foram ao jornal e de lá já saíram com a matrícula na mão.
Quando se apresentou ao professor Mário, ele viu uma menina magrela, canelas e braços finos, cabelo curto. Ela não sabia se estava ansiosa ou com medo.
Ao descer com cuidado a escadinha, aquela água fresca que aos poucos molhou seu corpo, quente do sol de verão, lhe proporcionou uma alegria tão grande que beirava a euforia. Estava feliz como nunca.
Começaram as aulas. Aos poucos ela estava se adaptando ao meio líquido. Quando aprendeu a boiar ela se deu conta que tinha vencido o poder da água. Pensou: nunca vou morrer afogada, já sei boiar. Foi para casa saltitando. Passaram os dias e o curso estava no fim. Chegou a hora de aprender a pular de cabeça na piscina.
Seguiu a risca a instruções. Se posicionou como mandada. E agora um, dois, três e…Spletch! caiu como um sapo. Que barrigada! Levantou-se atordoada e precisou de ajuda para sair da água. Foi para casa soluçando. Na última aula repetiu o feito. Nem ficou para receber seu atestado. Era a mais infeliz dos mortais.
Por que lembrei disto após 80 anos? Porque achei numa gaveta o Jornal Vespertino, que, mesmo após este tempo todo, as traças tinham poupado. Vislumbrei a menina magrela nadando.
O mais importante é que eu não morrerei afogada. Aprendi a boiar.