PALAVRAS
Felipe Anselmo Olinto
Receber a incumbência de escrever uma crônica neste momento me dá a impressão de fazer a lição de casa sem assistir a aula correspondente. Me transporta à época em que cursei o ginasial, e no meu primeiro dia de educação física ao chegar na escola, vestindo camiseta, calção preto, meia branca e conga, o professor me disse para fazer uma volta na pista de atletismo, e lá fui com as pernas parecendo que iam disparar a minha frente, entregando ao coração e aos pulmões a tarefa que lhes cabia. Sobrevivi e não me saí tão mal, e assim espero corresponder ao desafio que ora se apresenta.
As palavras sempre me fascinaram, por serem mágicas e pelo seu conteúdo transformador. Dependendo da maneira que são ditas, escritas, pensadas ou inseridas em um texto podem mudar os rumos de uma vida. Podem oportunizar aprendizado, aprimoramento e reflexão a respeito do contexto pessoal e profissional no qual estamos inseridos.
Instigante e provocativo, pois tenho comigo que quase sempre, independente da palavra, o percurso é feito sem que a reflexão emerja e oportunize o questionamento do porquê estamos realizando determinada caminhada.
Das palavras podem surgir as escolhas, escolhas que fazemos ao longo da vida, as quais parecem que com o passar do tempo se tornam mais difíceis de serem feitas. Este é o momento em que as palavras devem ser pronunciadas de maneira mais incisiva, para que possam atuar e nos conduzir a um melhor momento.
A magia das palavras não apenas surge nos sentimentos e compreensões, mas na quase imperceptível e incontrolável expressão facial que adotamos quando algumas delas nos vêm, como a palavra “saudade”.
Impossível pronunciar a palavra saudade sem lembrar de alguém ou de algum momento, e dependendo desse alguém ou do momento nosso rosto assume e se molda a um doce sorriso ou a uma amarga expressão.
Trago comigo há anos a imagem de um veleiro francês, vermelho, lindo, conduzido por uma tripulação destemida, que trazia em sua popa o nome Saudade e navegava em meio a uma grande tempestade em alto mar.