Fenda Negra
Soraia Schmidt
Nos doces olhos me atirei
Escuro adentro, num abismo
Onde mergulhar é pouco.
Imensidão de silêncio absoluto
Silêncio que faz do escuro uma coisa densa.
Em queda, fui devagar
Livre, suave, macio.
Uma viscosidade fria me toca
Pulsa.
Massa disforme, vibrante
Em movimento contínuo toma formas múltiplas
Me absorve e me dissolvo
Magma pulsante
Essência vital.
Ah, foi o olhar!
Mortal.
Porque suga.
Penetra, indaga, revela.
Pela fenda escura, nosso obscuro.
Humanos ou não
Somos todos felinos.
No gato, vemos a nós.
PS: Será por isto que tanta gente tem pavor de gato?