Ele está no meio de nós
Regina Lydia Rodrigues Jaeger
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Adágio popular
Ter medo é algo normal, o problema é quando ele extrapola e não nos deixa viver. Encarcera e nos deixa sem saída. Segundo Aristóteles, a virtude está no meio, entre o muito e o pouco — quanto ao medo, o muito nos levaria à covardia, o pouco, à imprudência. Quando em doses homeopáticas, ele torna-se benéfico, precisamos dele para nos manter vivos, como nosso aliado e, não, carrasco. Ele é vigilante, nunca dorme, sempre pronto a nos alertar dos perigos.
Quem nunca sentiu aquele frio na barriga antes de alguma apresentação em público? Ou na expectativa de um acontecimento importante? De um encontro amoroso, uma viagem de avião, uma prova? Mas, depois de superado, a sensação de alívio é uma delícia: aquela onda de satisfação e bem estar que nos invade. Depois da adrenalina, a endorfina — quimicamente fantástico.
Somos levados a ter medo desde pequenos, como uma forma de controle. Lembro-me até hoje do velho do saco da história da menininha dos brincos de ouro: — toca, toca meu surrão senão te dou com meu bordão… Era pra gente não sair sozinhos de casa. E os contos de fada? Todos eles tinham o medo embutido, através das bruxas, do Lobo Mau, da madrasta, dos malvados. Sobrevivemos.
E cá estamos nós, na sociedade moderna, onde o medo tomou novos contornos, novas exigências, infinitas formas. Cada um de nós tem a sua coleção particular e sensibilidade própria, desenvolvidas pelas nossas experiências de vida e herança genética. Só que, hoje, a capacidade de enfrentamento do medo é que dita as regras, do sucesso, ou do fracasso. Quem não consegue suportar as pressões do dia a dia é excluído do mercado de trabalho, da sociedade. É a Lei de Darwin repaginada. Vieram as doenças relacionadas à disfunção do medo: fobias, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, transtornos de ansiedade, hipocondria. E com elas, novas estratégias comportamentais para não sucumbirmos e seguirmos sempre evoluindo.
Com a era da informática, chega também o medo virtual, novo desafio, difícil de controlar pelo seu alto poder invasivo. Ainda estamos aprendendo a lidar com ele, mas já vem causando uma série de danos.
Enfim, ele está no meio de nós ou estamos cercados por ele.
Nosso objetivo será sempre a busca da saída: superação.