Dio Santanna em foto de Betho Giordani

Uma quase morte

Dio Santanna

“Nunca fui boa para suicídios. Bukowski, também não”. Com um bom vinho e seu fiel cúmplice ao alcance das mãos, divagava. Haja vida para tanto ontem. Já era o terceiro livro que relia em apenas dois meses. De saldo, algumas garrafas vazias.

Não morrer-se, no momento, era para ela, a única saída. Inspira expira inspira expira. Inspirava-se nela mesma. Como a árvore a sua frente, continuaria. Destemida. Galhos desnudos. Firme e forte. Frente à chuva. O sol que arde. Os vendavais.

Reinventar-se é preciso. Morrer- se- não.

As palavras, pressentiam os naufrágios. A boca ainda úmida, premeditava os desejos. E para cada garrafa vazia, um novo insight.

E assim, foi reinventando-se em suas quase mortes. Submergindo e voltando. Ele, seu cúmplice, parecia sussurrar ao seu ouvido, a cada nova página:  “ Vá ao fundo e volte. Volte”. Profundo.

Das tantas vezes que submergiu, esta parecia ser a que mais a inundou. Mas voltou. Sempre voltava. Como ele.

A árvore, agora lhe dizia que sim, que era possível viver uma quase morte, ficar seca e renascer. Inteira. Plena do que foi vivido. Um jogo sem cartas marcadas. Que sempre soube que poderia ganhar ou perder. Arriscar-se, ainda assim, era a melhor jogada.

Uma dose de delírio e suas quase mortes.  A sua medida.

“Só assim estaremos longe do fim”.


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