Cynthia Torp por Regina Starosta

Yuri – O grande

Regina Starosta

Inverno. É quase noite numa cidade qualquer no Leste Europeu. Um trem suburbano corre em direção aos bairros mais pobres na periferia. Pessoas saindo do trabalho, buscam seus lares. O vagão é mal iluminado e pelas janelas avista-se, ao longe, as luzes das ruas. Neste lusco-fusco, um jogo de luz e sombras sobre os passageiros, o que faz notar um ar de cansaço e desânimo de fim de jornada. Estão voltando para casa; usam roupas adequadas ao frio que deve fazer lá fora.

Talvez seja uma única lâmpada acesa, a iluminar a entrada, a incidir sobre a figura de um homem fantasiado de arlequim. Usa calças finas e coloridas; traz ainda no rosto a maquilagem característica usada no seu espetáculo. Apesar de causar estranheza, ninguém parece notar. Cada um está ensimesmado com seus problemas.

Seu nome é Yuri e seu olhar fixo, num ponto qualquer, é de desespero.

Começou cedo na carreira de palhaço com grande sucesso. Cresceu na profissão; era requisitado nos melhores circos e com eles viajou pelo mundo. Teve glórias e honrarias. Foi querido por todos, era chamado Yuri – O Grande.

Agora está velho. Seus dias de glória ficaram na lembrança. Ele compreende que é hora de parar, mas recusa-se a tomar a decisão. Engana a si próprio apesar dos avisos do patrão. Esta noite seu desempenho foi péssimo e ele cumpriu a promessa. — Despedido.

O choque foi grande. Desnorteado, saiu assim como estava. Mal pegou o casaco por instinto. Embarcou no primeiro trem; só quer fugir daquela notícia que decretou sua morte.

Agora, sentado naquele banco, sem saber aonde está, ele pensa no que será sua vida daqui pra frente.

Desce no fim da linha, cabisbaixo. Segue a pé para casa. Nem sente o frio.


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