Circo da vida
Felipe Anselmo Olinto
Na aparente mesmice do nascer, crescer e morrer, instigante imaginar a vida de cada um após o desembarque apressado do trem. Todos resignados, qualquer que seja a estação.
Introjetado o desígnio, a motivação para viver emerge dos sonhos, desejos e necessidades. A cada jornada, vitórias, derrotas, dores, alegrias e o inexorável fim.
Os pensamentos, tanto quanto os vagões, se movimentam abaixo da superfície, impedindo o meu decifrar dos rumos que serão tomados. A ousadia em sugerir o que são e o que irão fazer é um exercício às inesgotáveis possibilidades do comportamento humano.
Casal a minha direita, classe média, filhos em casa, cumpre seus compromissos com esforço e mantém interesse recíproco, com o passar do tempo e afastamento dos filhos, acomodação e carinho os unirá. A senhora negra ao meu lado, levará consigo marcas de uma existência suportando a sociedade que a cada momento insistiu em subjuga-la. Tem a dor latente por saber que seus filhos e netos estarão submetidos a mesma condição. O professor e seu pupilo, expectativa de um mundo melhor, que naufragará frente ao sectarismo dos novos tempos. Os homens eretos, retornam do trabalho, pensam nos jogos do campeonato nacional, e num pequeno apartamento de subúrbio terão a solidão como companhia.
Pichação. Ato que contesta, provoca, suja e dá cor às paredes cinzas do trem e do metrô.
O circo da vida, onde todos desempenham um papel, e no picadeiro usam o figurino que melhor lhes cai.
Como arlequim, participo do espetáculo com o tempo que ainda me cabe.
Script não há. A plateia sou eu e meus pensamentos.