Senhoras e senhores! A boite Green Valley tem a honra de apresentar nosso convidado de hoje, Incrível Tony! Abrem-se as cortinas e aparece um homem vestido a caráter jogando beijos para a plateia, que o aplaude efusivamente.
Seu traje consta de: um colete e uma calça tipo pescador na cor cinza claro, meias e luvas brancas, camisa e casquete vermelhas, sapatos pretos. Para completar a caracterização, ele está com o rosto coberto com alvaiade, o que salienta boca e olhos. Ele é o famoso Incrível Tony.
Começa seu show de mímica com as mãos, atirando beijos imaginários, divertindo o público. Mas quem será ele na vida real? Um artista que ama trabalhar incógnito? Ou uma pessoa importante que gosta de disfarçar-se? Que idade terá? Como descobriu sua aptidão para mímica?
Ernesto pertence a uma família classe média. Teve uma vida regular, como qualquer cidadão. Aos seus 18 anos avisou em casa que iria estudar Artes Cênicas. Amava e vinha, de longa data, praticando o teatro. Surpresa total na família. Desgosto para o pais; esperavam outra profissão.
Assim começou sua vida, digamos, adulta. Trabalhava durante o dia e a noite, estudava. Conseguiu atingir seu objetivo de artista; seu nome começava a ser conhecido. Um dia assistiu a um show de mímica. Ficou alucinado.
Saiu a procurar quem pudesse ensinar-lhe aquela tão antiga arte vinda desde a Idade Média. Determinado, não tardou muito e ele já estava no palco com seu personagem. Prático, contratou um agente teatral para organizar sua nova carreira. Assim surgiu Incrível Tony.
Deu tão certo a parceria agente-artista , que em breve ele já estava viajando para as mais diversas paragens. Começou pelo seu estado. Depois arredores, seu país e, quando deu por si, estava no exterior. Esta trajetória levou muitos anos que Ernesto não computou. Estava rico, feliz e realizado.
Uma noite sentiu que seu desempenho não foi o mesmo e que a plateia não o aplaudiu como sempre.
Já no camarim, ao desvestir-se e retirando a maquiagem, olhou-se com mais atenção. Tinha envelhecido. Com o susto, parou para colocar seus pensamentos em ordem. O que fora feito com sua vida? Sucesso! Agora já não bastava. Precisava saber: o que fizera com sua família, amigos e sua namorada. Sentiu vergonha por tê-los abandonados. Cobriu o rosto com as mãos e chorou copiosamente.