Desde pequena ouvia minha mãe dizer que só se vive uma vez.
Como uma coisa é o que se diz, e outra coisa é o que se interpreta do que foi dito, tenho minhas dúvidas se eu e minha mãe compartilhávamos do mesmo olhar com relação às possibilidades diante da brevidade da vida.
É certo que ela não perdia tempo com rancores, fofocas maliciosas, inimizades, mágoas profundas ou desejo de vingança. Se apressava em perdoar, deixar tudo resolvido, propagar a paz. Tanto assim que, quando eu chegava em casa furiosa, depois de brigar com as amigas da escola ou do condomínio, jurando nunca mais querer falar com elas ou convidá-las para minha festa de aniversário, minha mãe sorria, me abraçava e lá vinha a frase: “Deixa de besteira, minha filha, só se vive uma vez. Não perca tempo com bobagens”.
Para mim, o conselho não funcionava. Eu adorava dar o troco, desperdiçar minhas horas planejando vingança, ou como minha avó dizia, pensando num jeito de dar um tapa com luva de pelica.
Eu fazia dessa forma, justamente, por acreditar na brevidade da vida. Se é passageira, ninguém vai se fazer de besta comigo. Meu lema era: “Deu, levou! Não fico com o troco de ninguém”.
Nisso, divergíamos solenemente, mas uma relação de amor é feita de nuances, constrastes e reflexos. E numa questão concordávamos: a esperança é a janela da vida. Se ela se fecha, morremos sufocados diante de uma insuportável parede cinza.
Foi assim quando passei pela primeira desilusão afetiva. Tranquei a janela. Sofri profundamente por julgar nunca mais voltar a ser feliz. Nesse momento, minha mãe ofereceu seu colo e alertou: “Abre a janela da esperança, filha. Olha para o horizonte, lá distante tem um sol esperando por você”.
Aprendi com isso a buscar o que se esconde atrás da cortina do instante. Desenvolvi uma crença, quase infantil, mas infalível, de que para tudo existe uma saída, um caminho atrás do óbvio do agora.
Não me deixo mais enganar pelo desespero.
Gosto de acreditar que minha mãe mora naquele horizonte distante. Para senti-la perto de mim, mantenho a janela da esperança aberta e deixo a brisa da saudade entrar.
Só se vive uma vez. É verdade. Porém, independentemente da interpretação que cada um de nós possa dar para esse fato, desfrutamos da dádiva e do privilégio de estarmos vivos por tempo suficiente para plantarmos o melhor de nós.
Minha mãe tinha razão; se é passageira, que seja paz. Afinal, para todo sol que se põe, existe um sol que nascerá. Apreciemos o espetáculo debruçados na nossa janela.