O que me diz uma foto de uma mulher negra com turbante, com raízes e com chuva. Uma foto com dupla ou tripla exposição? Ou, talvez, uma fusão de, pelo menos, três imagens diferentes? (Pelo que meu olhar alcança…)
Mulher, raízes, chuva são conceitos que me remetem à vida, em especial à capacidade da vida se reproduzir.
Raízes me faz lembrar de Alex Haley, e seu romance homônimo. A rede ABC nos Estados Unidos produziu minissérie adaptada. Essa série foi exibida no Brasil. É a história de uma família de pessoas negras. E o início da história é quando um ancestral, chamado Kunta Kinte, é raptado na África, levado através do Atlântico, e escravizado na América do Norte, no final do século XVIII. A terra de origem de Kunta Kinte ficaria onde hoje é a Gâmbia, na costa ocidental africana.
Acho que há uma ideia difusa entre quem pensa sobre essa diáspora forçada e violenta. Como as pessoas que foram raptadas e escravizadas, o foram na África, se liga certa ancestralidade a esse continente. Um continente que seria uma terra mãe.
Então eu penso na canção de Chico César, que se chama Mama África, mas fala de uma mãe, provavelmente preta, que, sozinha tem que cuidar da prole, e trabalhar em um emprego mal remunerado. Não se sabe onde acontece a história da canção de Chico César, mas a citação das Casas Bahia me remete para o próprio estado brasileiro que tem Salvador por capital. Pela rima, Chico César ainda diz que “deve ser legal ser negão no Senegal”. Mas Bahia me remete mais aos povos da cultura iorubá ao redor do Golfo da Guiné; Nigéria, Benim, Togo, Gana, que ao Senegal propriamente dito, bem mais ao norte, e mais muçulmano.
A África tem 54 países. Tão diferentes como Egito, Congo, Etiópia ou África do Sul. Contudo tendemos a pensar como uma coisa só. Mais ou menos como uma tataratataravó perdida nas brumas das gerações. Temos uma vaga ideia de como ela era. A veneramos por projetar nela nossas aspirações de origem.
Terra mãe. Idealizada. Onírica. Como a foto que inspirou este texto.