Tom Saldanha em foto de Anelise Barra Ferreira

Mercado Público

Tom Saldanha

O incêndio do Mercado Público de Porto Alegre, em julho de 2013, fez com que fosse interditado, o piso superior deste marco da geografia da capital gaúcha. Assim, os bares e restaurantes lá instalados foram provisoriamente alocados numa área do térreo, até então destinada a outros usos.

Como é bastante comum, o provisório vem se eternizando pelos últimos cinco anos, sem previsão de restabelecimento da situação anterior. Uma pena, pois além de reduzida, esta área hoje está totalmente descaracterizada. A provisoriedade, mesmo quando dura mais do que o esperado – e que, pela lógica, deveria ser muito pouco – impede que aquele ambiente ganhe personalidade, o que transborda em todo o restante do nosso querido Mercado.

Para quem já se acostumou com o frescor e qualidade dos ingredientes a granel, em contraposição à assepsia das embalagens de supermercado; para os que prezam o encontro para degustação de pratos tradicionais ou para aqueles que apostam no poder de redenção das amizades que brindam num ambiente descontraído, ele continua sendo um lugar a ser preservado com todo respeito e carinho.

Eu, que tenho cotovelos calejados por balcões que já se foram, tive uma série de posições cativas em alguns destes templos da alegria liquefeita. Apenas como exemplo, cito o do Naval, do qual preferi me aposentar depois de uma reforma que conseguiu descaracterizar o que levou mais de um século para ser construído. Lá participei de uma confraria que se encontrava aos sábados, com direito a carteirinha de identificação. As fotos com passe-partout eu fazia na portinhola da porta que ficava na ponta do balcão e dava para a lateral da Prefeitura.

Minha relação com o Mercado Público de Porto Alegre, apesar de hoje menos intensa, sempre foi tão íntima e com tanto afeto envolvido, que teimo em chamá-lo de meu mercado privado.


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