— Que quarto bagunçado! Dez anos e não consegue organizar calçados e briquedos. E esse cadernos jogados de qualquer jeito na mochila? E os temas? Certamente não foram feitos. Não aguento mais as reclamações da escola, que tu não estuda, não obedece, só pensa em futebol e joguinhos no celular. Acabou o celular. Está confiscado e tu, de castigo.
Dez minutos depois:
— Mãe, preciso do celular.
— Já te falei: tá de castigo e sem celular.
—Mas, mãe preciso falar com o pai, combinei de ir na casa dele e tenho que pesquisar para a lição da escola.
—Dessa vez vou liberar e quero ver o tema feito.
Dessa vez e outra e mais outra. Os limites vão se estendendo, se esticando, se estirando até que rompem. E, aí “se foi o boi com as cordas” como dizia meu avô.
— Mãe, posso ler para você o texto que escrevi na escola?
— Não, agora não dá. Estou trabalhando, preciso enviar esses documentos e daqui há pouco tem reunião. Mais tarde, talvez.
— Mas, mãe você está sempre no computador e no celular.
Pais permissivos e sem tempo. Filhos perdidos, sem limites, invisíveis em casa. Cada um com sua tela, no seu espaço virtual. A família digital está desorientada. Alguma novidade nisso? Nenhuma. O mundo tecnológico tem ampliado a solidão e reduzido o diálogo, o que impacta na relação pais e filhos. Embora não seja novidade, precisamos refletir sobre esse cenário da hipermodernidade, onde tudo é intenso, urgente, constante e as mudanças se dão num ritmo enlouquecido.
São os adolescentes que despontam nas estimativas de hiperconexão tecnológica. Segundo a Organização Mundial da Saúde, considera-se a adolescência o intervalo entre 10 e 19 anos. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera adolscente o indivíduo entre 12 e 18 anos. Trata-se da fase de transição entre a infância e a vida adulta. Se na infância brincavam de super heróis, agora se consideram Super-Adolescentes, Adolescente-Maravilha e pensam – santa ingenuidade – que podem tudo. Inegável que sabem muito de tecnologia, mas desconhecem a vida.
Hiperconectados no celular e na internet deixam de comer, dormir e estudar. Estão mais expostos aos perigos das redes e desconectados da família. E os pais, por vezes, nem percebem, pois também estão mergulhados em suas próprias redes sociais. Há um desencontro, um descompasso, que não tem a tecnologia como a principal vilã. A psicóloga Leila Cury Tardivo, do Instituto de Psicologia da USP, afirma que o poder que os filhos exercem sobre os pais sempre existiu. O que é necessário é o limite. Dizer e sustentar o não. E as crianças serem educadas para escutar e aceitar o não, com a mesma tranquilidade que um sim.
É preciso estabelecer regras para os filhos e regras para os pais. Desconectar os equipamentos digitais e conectarem-se uns aos outros, através do toque, do abraço, da boa conversa, do carinho. Compartilhar experiências.
— Mãe, sai do notebook e vamos caminhar ou andar de bike.
— Agora não posso, tenho uma crônica para entregar…
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