Quilombolas são as pessoas escravizadas que, fugindo dos engenhos de açúcar, fazendas, e também de centros urbanos, onde trabalhavam no serviço doméstico de seus senhores, fundaram vilarejos, chamados de mocambos e, posteriormente, de quilombos.
As pessoas negras, trazidas para o Brasil para ser mão de obra escravizada são originárias de diversos grupos étnicos, com cultura e idiomas próprios; vieram da Costa do Marfim, da Nigéria, e também de Angola, Congo, Moçambique, Senegal, Gâmbia, Guiné e Benin.
O costume era de que os donos de fazendas e engenhos, ao comprar pessoas negras para escravizá-las, imediatamente separassem as famílias e quem vinha de um mesmo lugar, para que não pudessem comunicar-se com facilidade, dificultando eventuais revoltas e fugas.
Os quilombos brasileiros não se localizavam apenas em áreas rurais, havendo registro da existência de quilombos em áreas urbanas, passando a designar, no período colonial, locais onde os que conseguiam fugir de seus senhores, escondiam-se. Resistiam. Re-existiam.
No Brasil, hoje, há milhares de comunidades quilombolas – rurais, urbanas e suburbanas, que são definidas a partir de ancestralidade, parentesco, território e tradições culturais, tendo como característica primordial a preservação da terra onde vivem, praticando cultura de subsistência e mantendo suas tradições. Porém, há de se considerar que a maioria da população quilombola não reside em territórios titulados – mais de 95% dessa população não obteve os títulos definitivos no processo de regularização fundiária.
A Fundação Cultural Palmares visa a promoção da afro-brasilidade e é a responsável pela emissão de certidões às comunidades quilombolas e as inscreve em um cadastro geral. Em 2019, a partir de dados do Censo de 2010 e da base territorial do Censo de 2022, estimava-se a existência de cerca de 6 mil localidades. O Censo de 2022 mostrou a existência de quase 8,5 mil localidades quilombolas.
Segundo o Censo do IBGE de 2022, que pela primeira vez incluiu as comunidades quilombolas em seu questionário, o Brasil tem 1,3 milhão de pessoas que se identificam como quilombolas – aquelas que têm laços ancestrais, históricos, com a comunidade e a terra em que vivem, correspondendo a 0,65% da população total do nosso país. Há quilombolas em todos os estados brasileiros, com exceção de Roraima e Acre, sendo a região Nordeste a que concentra o maior percentual desse grupo étnico, quase 70%, com Maranhão sendo o principal estado.
Considero que esses dados estatísticos sobre os quilombolas são de suma importância, tanto para a obtenção de conclusões válidas sobre os reflexos do período da escravatura, cujas mazelas chegam até nossos dias, quanto para a tomada de decisões relativas às políticas públicas que buscem efetivamente proteger a cultura e os territórios dessas comunidades. Passado, presente e futuro ressignificados na resistência. Ou início, meio e início – como diria Nego Bispo, um dos maiores intelectuais quilombolas brasileiros.