Descobrir novos mundos, novas culturas, lugares diferentes; conhecer pessoas com suas histórias de vida, é sempre fascinante. Viajar é enriquecedor para quem gosta e aprecia. Há viagens que fazemos por gosto e lazer para nos divertir. Existem outras que são por obrigação, trabalho, estudo, tristeza e despedida, as quais também aprendemos e crescemos muito como pessoas.
Uma delas são aquelas em que carregamos dores e sofrimentos nas bagagens, olhamos para o azul do céu e queremos respostas. Nem sempre as encontramos. Ou melhor, elas não são exatamente as que queríamos ouvir. A pressa é grande em chegar, ver, abraçar e suspirar. Corre-se para o aeroporto, mala de mão compacta para não perder tempo. Todos a bordo, cintos afivelados, orientação de comportamento para alguma emergência e levantamos voo. Viagem angustiante, cheias de dúvidas, medo de perder, arrependimentos e pedidos de perdão.
Sim. Estou falando das tantas idas e vindas que fiz nos últimos dois anos ao Rio, especificamente Niterói, nos mais diversos horários e dias da semana a fim de ver o meu irmão Boris mais uma vez, atenuando um pouco, com minha companhia e com os meus “causos”, o seu terrível sofrimento, devido a uma doença terminal.
Consegui revê-lo umas tantas vezes, um mês sim e um mês não, principalmente no decorrer do ano passado. Bastava minha cunhada, sua esposa, me ligar e pedir socorro que eu ia correndo para ficar junto dele, ajudando-a e confortando minha mãe.
O mais estranho disso tudo, o lado positivo, é que eu o encontrava lúcido e feliz, mesmo com dor, amenizada com doses de morfina, dipirona, muito carinho e amor de todos que o cercavam. Consegui falar para ele que o amava e que o perdoava, assim como também pedi perdão por erros e palavras duras que no passado havia pronunciado contra ele. A recíproca foi a mesma.
Finalmente havíamos nos entendido e nos perdoado mutuamente. Pena que passamos algum tempo longe um do outro e precisou acontecer essa terrível doença para que tudo fosse resolvido.
Da última vez que o vi e nos falamos pessoalmente, ele perguntou se eu viria no seu enterro. Fiquei com a voz embargada, a certeza e a sobriedade do Boris em relação à morte próxima foram muito chocantes. Disse que sim. Fiquei triste e ele pensativo. Retornei a Porto Alegre com o coração apertado. Senti que nunca mais o veria presencialmente. Ainda conseguimos nos comunicar depois disso, em vídeo, pouquíssimas vezes enquanto ainda estava lúcido. Orávamos o Pai Nosso juntos. Foi a nossa derradeira despedida.
Em 25 de dezembro de 2023, dia de Natal e também do meu aniversário, o Boris entrou em coma, vindo a decolar para uma viagem sem volta no dia 09 de janeiro de 2024, após quinze dias de agonia. Em paz, descansou. Foi resgatado. Certamente seu voo foi para muito além do que os aviões, ou os foguetes com suas respectivas naves poderosas podem alcançar: a eternidade!
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