Aqui em casa pousou um gafanhoto. Poderia ser um aprendiz das artes de kung-fu, como naquela série de televisão dos anos 1970. Mas não. Era apenas um inseto. Verde, pequeno. Um filhote?
Pensei em fomes – nuvens de gafanhotos atacando lavouras. Tive um certo nojinho. Houve um tempo em que eu tinha horror de insetos e procurava me livrar deles o mais rápido possível, muitas vezes liquidando-os. Mas mudei. Passei a valorizar toda forma de vida, na medida do possível, desde que não me sinta ameaçada.
Naquela noite agradável de primavera, o bicho pousou na janela.
Meu filho ficou olhando.
– Vou tentar pegar ele, mãe.
– Pegar pra quê?
– Não sei. Pra ver se consigo.
Mesmo com movimentos lentos, o menino não foi sutil o suficiente. O gafanhoto entrou de vez no apartamento, e parou em um quadro na parede. Ficou em um canto na parte de um quadro. Do outro canto apareceu uma aranha.
– Agora não sei, mãe. Se tento pegar o gafanhoto, se deixo a aranha pegar ele ou se mato a aranha.
– Dizem que matar aranha dá azar.
– Bobagem, mãe. Não dá nada! – diz o mais velho, durante o intervalo da TV.
Teimoso, o menino tenta chegar perto do gafanhoto.
O bicho voa em direção à luminária. Entra por trás da lâmpada.
Meu marido chega. Pergunta o que está acontecendo.
– Uma visita de um gafanhoto. Se escondeu na luminária. – respondo.
Ele dá uma olhada. Pelo jeito não achou nada de mais, pois foi para o quarto.
O bicho fica ali. O menino vai se juntar ao irmão diante da TV.
Eu olho um pouco. Fico pensando. Acho que nunca tentei pegar um gafanhoto. Tem tanto bicho; gafanhoto, grilo, esperança… Também não lembro se algum já pousou em mim. Mas se pousou devo ter espantado. Em todo caso, já não lembro se aconteceu, nem como reagi.