Donnez-moi des chansons
Pour qu’on s’aime à Paris
(Les Amants de Paris)
Uma torre. Trezentos metros feitos de metal desafiando a gravidade.
Nunca fui a Paris. Portanto, nunca visitei a Torre Eiffel. Isso por si só bastaria para que não escrevesse mais nenhuma linha dessa pretensa crônica. Mas é que, na verdade mesmo, eu estive lá. E ainda vou tantas e tantas vezes, sentindo o ar enregelando minha pele, umedecendo meu vasto casaco. Bebendo o espumante em família, lá no alto de seu restaurante, la foule, telhados de Paris, plein soleil. Perdendo o amor, ganhando o beijo. Vivendo a vida em cor-de-rosa, ne me quitte pass.
Muitas postagens nas redes sociais, as lembrancinhas trazidas por amigos, e a música. Sim, é ela que privilegia a transposição no espaço e no tempo para uma atmosfera transcendental.
Estando ou não em Paris, será a mesma para cada um de nós? Qual experiência tenho de Paris? Os filmes do Festival Varilux durante a pandemia? O ator Romain Duris que, por ironia do destino, descubro ter protagonizado Gustave Eiffel, no filme homônimo?
Ouço Édith Piaf. Passo a acreditar que meus sonhos voltarão a brilhar: Padam padam, Hymne à l’amour, Non, je ne regrette rien, Sous le ciel del Paris…
Nas suas notas permito-me devaneios e reinvento-me na Cidade das Luzes, a vendo rodopiar nos esquecimentos que recolho em suas músicas…
Ficam assim a girar
nunca mais lembrei de encontrar
as letras que me alegraram nos jardins de primavera
sei que sempre retornarei para lá
à espera de recolher algum sonho
caído de algum bolso
de qualquer lugar do planeta
corações que acreditaram
que a dor ficou para trás
– nunca ninguém a pôde sentir –
em Paris.
Contemple Duris, irrigue seus sonhos, eleve-se em Notre-Dame.
Não jogue suas taças
não recolha seu otimismo.
Pois lá os amantes não acreditam na guerra, em nenhum passado, nem num futuro que os destrate.
A beleza é eterna em Paris.