Vou me socorrer da clássica cena de pegadinhas na qual pessoas comuns são perseguidas e imitadas por um ou mais mímicos. Quando a vítima se dá conta do que pode estar acontecendo, vira-se para trás e, imediatamente, quem faz a graça disfarça a farsa. O caminhante segue e, seguro de que está sendo seguido, olha com mais velocidade. Não adianta: nunca flagra a ação. No máximo, promove reações mais atrapalhadas de quem se dedica à mímica – para delírio do público.
Parei para pensar: por que isso é tão engraçado? Tenho quase certeza de que o espírito reside na habilidade dos palhaços em imitar com jocosidade ou exagero, transformando o gesto mais simples em esquete de humor. Se o caminhante está comendo um sorvete, por exemplo, é mais divertido. De mãos dadas com alguém? Perfeito. Se por acaso tem algum vício de movimento, aí é o céu! E quanto mais séria parece ser a vítima, tão melhor ficará o show.
Ao ver o mímico trabalhando, lembrei-me do corretor automático de mensagens de aplicativos. Num primeiro momento, parece ser aquela ferramenta útil, capaz de nos livrar de erros de digitação ou ortográficos, tão comuns em mensagens instantâneas nascidas em teclados diminutos e sensíveis. Um serviço a nosso favor, enfim. Será? Então, por que eu vejo este revisor como um mímico atrás de nós, pronto para nos fazer passar vergonha?
Hoje mesmo, ao responder uma mensagem para a Carolina, lá estava o revisor imitando ao escrever Catarina. Como eu não olhei na hora para trás, a mensagem foi com o nome errado, me fazendo passar vergonha. Ao me virar, era tarde. Pedi desculpas, constrangido. Alguém lá no universo paralelo do mundo digital gargalhou ao se dar conta que o automático pregou outra peça.
Se me perguntarem a razão de eu não desabilitar o serviço, explico que ele pode, só para disfarçar, arrumar algumas gafes, e isso é bom. A mim – a nós – resta a obrigação de revisar o revisor, tipo caminhar com um olho para frente e outro para a retaguarda. E torcer para não ser a próxima vítima.