Algo brilha no escuro, chega entre brados e ritmos, assombroso. Carregado com pompa, solenidade, olhar firme ao longe.
A multidão inquieta se pergunta: Quem será? Naquele parque burguês, ninguém imagina um conterrâneo como aquele. Acostumados a comemorações por vitórias e manifestações contra o bem comum, nada permite imaginar algo tão contra hegemônico assim.
Muitos se surpreenderam e viraram as costas, mas outros decidiram encarar a ousadia, com inveja da coragem.
Um rei escuro, preto, trajado como monarca que sente ser, representando reinos abandonados à força e lembrados entre sangue e dor.
Mas é uma rainha! Vestido longo, listras em arco-íris, recoberto por um manto de pérolas em luz. Uma tiara elaborada com galhos e folhas, rebordada por flores da estação. Segura um cesto com frutas em uma ode à abundância.
Dedos com anéis mil, destacando as unhas em negro como seus olhos. Sua voz ressoa junto aos tambores.
Nascido homem e morta mulher, viveu tudo que pode e que não podemos – nós, os outros. Ela se jogou e vibrou na energia do corpo encarnado, enquanto lutávamos para saber quem éramos.
A lua brilha na negritude do cosmos, muito maior do que cabe nos meus olhos. Nem sei quando a vi, mas lembro da festa e da arte.
Hoje, flutua em um mural que permite, não em um muro que limita.