Larissa
Soraia Schmidt
Chegou ao terraço
Sentou na beira
Balançou as pernas
Olhos secos e fixos para baixo
Escolhera o lado feio do predio
Subiu contando os degraus – 190
Só de meias
Não tinha pressa
Não mais existia o tempo
Eram as escadas por onde se escoa o lixo
Ninguém a incomodaria.
A noite se gastou e desbotava
Um alvorecer pálido se esboçava
Outro dia sem cor, por certo, cinzento.
Sentia nada
Só os ombros. Pesavam-lhe
Olhava o lixo, o beco, o seu vazio
As saídas dos fundos; escapes, refúgios, fugas
A sujeira composta na parte de trás. Às escondidas. Era a humanidade.
O caminhão de lixo, dormido ali
Estaria o motorista acordado?
As luzes ligadas
Sem ter para onde ir
Beco sem saída, imensidão
O mundo era isso.
Pulou de braços abertos
Foi sua última visão