– Zeca, deixa eu te contá as novidade. Desde que aquele artista chegou na cidade, cada semana é uma… cumé o nome mermo? Lembrei, instalação artística na frente da casa dele.
Uns trem sem pé nem cabeça e ficam chamando de arte. Cê acredita que a última foi uma porta de um opala, uma roleta de ônibus e um armarinho de banheiro dependurado bem do lado da janela . Imagina só que nos feriado, vem uma ruma de turista para ver!
O Toninho da Maria dos Bordado, aquele que mora defronte do Zezinho Galinheiro e que posa de intelectual, mas que não bate bem das cachola, colocou um terno, espia só e fez ares de entendido. Deu os braço para a mulher e parou lá na frente, subiu num banquinho e falou:
– Esta exposição me lembra da conjunção da análise das incongruência interpretativas das indiferenças sociológicas dos tempos atuais.
Não satisfeito com a baboseira sem sentido que falava continuou:
– Indistintamente, preenche as lacunas do vazio midiático da estrambólica retórica do acaso.
O Geraldinho Doido, que já estava na sua décima cachaça do dia, começou a bater palmas e gritar já ganhou, já ganhou. Eu por minha vez dava tanta gargalhada que me mijei em praça pública.
A mulher do Toninho, que era bem melhorzinha da cabeça do que ele, não sabia onde enfiar a sua própria. Fuzilou o marido com aquele olhar que dizia: para com isso agora se não você vai ver comigo. Ele que não era bobo enfiou o rabo entre as pernas pegou a mulher pelos braços e sumiu no meio do bolo de gente que se juntou. Era bem na hora do missa do padre Cláudio.
O artista ao ver o movimento saiu todo satisfeito e resolveu discursar. Acho que sobre aqueles trem de arte contemporânea.
Foi ele subir no banquinho e tentá falá o povo começou a gritar:
– Toninho, Toninho – e não deixaram ele nem abrir a boca. O coitado do home ficou vendido. Cê tinha que vê a cara dele, num tava entendeno nada. Desceu todo sem graça e entrou em casa.
Eu só sei que o Paulinho da Farmácia contou que escutou no outro dia a conversa do dito cujo e sua mulher, que foram lá comprar remédio para dor de cabeça:
– Ana, vamos dar um jeito de ir-se embora deste lugar. Aqui só tem doido. Nunca vão dar valor a minha arte.
Paulinho não se fez de rogado, entrou no meio da conversa e falou na lata:
– Oceis num se preocupe não. Nós temo uns doidin de estimação na cidade, mas o resto é tudo tranquilin. Cês pode continuar a colocar aqueles treco na porta docês, a gente num entende nada não mas acha bem divertido.
A mulher já estava sonhando com a vida na capital de novo, quando viu um brilho nos olhos do marido, que conhecia muito bem. Ai meu Deus! Acho que vou aprender bordado com a Maria, já vi que minha temporada aqui vai ser longa. Tem muito material nesta cidade para a imaginação deste meu maridinho.
– Como eu fiquei sabendo desta última parte? Cê nem acredita. Maria dos Bordados que contou.
– Tem base?