A vida nos ombros
Tom Saldanha
Carrego a vida nos ombros.
Ou será que é ela que me leva entre as pernas?
Sigo em frente, atento pra não tropeçar; trôpego por não descansar.
Não é o fôlego que falta: é a alma que me sobra!
Busco no que está pela frente o que, sem saber, posso ter deixado pra trás. Talvez não.
Luto por oportunidades e tento aproveitá-las em todas as chances. Como acredito sempre ter feito.
A atenção que preciso dedicar àquilo que ainda pode vir não me permite ficar medindo o que já passou.
Dos anjos protetores espero a vigília constante, para que ajudem na escolha dos melhores caminhos.
E que, por melhores, não sejam os mais fáceis nem os mais curtos ou mais seguros. Nem espero trajetos sem obstáculos. Quero é ter forças para chutar as pedras soltas que afrouxam o andar; quero chapinhar nas poças de mediocridade que escondem as bobas armadilhas da desilusão.
Sei que a vida é debochada… Sei que, quando não olho, ela se vira e faz troça com quem nos segue. A danadinha está sempre aprontando. Finjo que não percebo, mas não adianta: ela sabe de tudo.
Volta e meia ela vai juntando coisas no caminho só pra testar minha capacidade de carregá-las. Enche minha mochila de porcarias sem se dar conta que é sua própria peraltice que me diverte e recarrega minhas forças. Mas até isto faz parte do nosso velho jogo.
Quando o caminho parece solitário, com tudo vazio à nossa volta, temos um ao outro. Mesmo depois de tanto tempo, ela se mantém jovem e leve. E jura que não vai crescer.
E eu, que vivo de nela acreditar, sei que é verdade.